FAZENDO AS CONTAS

Embora alguns generosos amigos me cobrem por estar enviando menos textos para o jornal, e me peçam para escrever sobre determinados assuntos e saiba que ninguém é dono da palavra, por isto nos deparamos com textos que falam coisas que gostaríamos de ter dito, outras que já dissemos , assim como algumas vezes repetimos o que já foi dito, numa intertextualidade saudável, digo-lhes que escrever decorre da necessidade, dos fatos, do prazer, da alegria, da tristeza, da resignação, da vontade de elucidar certos fatos. Ás vezes, da revolta, também.

Pois estas palavras saem de um misto de sentimentos, entre eles, a perplexidade.

Estranhamente, isto faz com que sejamos repetitivos. Já perdi a conta das vezes que falei da necessidade das pessoas terem um salário digno, justo. Do quanto acredito que o estudo seja o meio mais legítimo de ascensão social, devendo ser exigência para todos os cargos do executivo e do legislativo, de que o estudo assim como outros direitos básicos são garantidos pela constituição.

Mas, não podemos ignorar, o número de desempregados aumentou;

Os salários são defasados;

O número de vagas nas escolas públicas é insuficiente;

Muitas pessoas fazem um sacrifício imenso para colocar os filhos nas escolas particulares;

Os vilões nas escolas não são os professores, mas um sistema que ao longo dos anos diminuiu os salários numa ação cruel que além de restringir o poder aquisitivo, tentou confiscar a dignidade de uma classe, (na qual me incluo, pelos 06 anos em que exerci o magistério);

A crise econômica atingiu setores como o da extração mineral; indústria metalúrgica; mecânica; material elétrico e comunicação; transporte; madeira e mobiliário; de papel, papelão e editoração; borracha, fumo e couros; química e farmacêutica; têxtil e de vestuário; calçados; produtos alimentícios e bebidas; de utilidade pública; construção civil; comércio varejista e atacadista; o das instituições financeiras; ensino; agricultura; e o de alguns setores de serviços; (Pergunto: quem não foi atingido, então, no setor privado?).

Pois bem, com tudo isso, baseado no que constatei ontem, pergunto como um pai ou uma mãe (muitos, inclusive com curso superior e atividade autônoma) vai manter um filho em uma escola particular com o custo do material escolar?

Tenho uma neta que vai cursar a 8ª série de uma escola particular. O nome da escola não é o que interessa, pois elas (as escolas) em geral adotam livros e materiais semelhantes, mas o valor de tal material é que me parece exorbitante. Sei que a escolha dos livros é feita pelos professores que os avaliam, mas será que não há como escolher outros e com isto forçar a diminuição dos valores e desonerar os bolsos dos pais sacrificados?

O total de material de minha neta importa em R$555.05, 00, os livros e R$ 139,00 o restante (folhas, caneta, cadernos, lápis,sem dicionário inglês, dicionário de espanhol).

Parece-me absurdo que uma família tenha que despender este valor, para uma criança estudar . E os que têm mais de um filho? Há que se levar em conta o restante de material solicitado ao longo do ano, o uniforme, os passeios.

Tento incentivar, nem sempre com sucesso, o reaproveitamento do material disponível, mas o apelo ou estratégia das indústrias de material escolar é muito grande, pois os mesmos são variados, chamativos, coloridos bem ao gosto da clientela que vai utilizar, não da que vai pagar.