Crônica XIII - A Mochileira Tupiniquim na Fórmula 1

Ana Esther

Houve época em que a Mochileira Tupiniquim era fanática pela Fórmula 1. Tão fanática que tomou coragem para finalmente fazer sua primeira viagem solo... e de quebra voar de avião, seu sonho de pequerrucha. Comprou os ingressos para o evento internacional, parcelou o pacote da excursão e começou a preparar a mochila...

Com tudo pronto a Mochileira vibrava com a perspectiva de sua primeira viagem totalmente sozinha! Bem, nem tanto... “Lenita, Martha Heloisa, olhem bem a minha filha, amigas! É a primeira vez que ela passeia sem eu ir junto!” Lá estava o conselho materno que a acompanharia o tempo todo naquela aventura insólita com 298 viajantes homens e 3 viajantes mulheres...

Entre tantas experiências novas viajar de avião foi moleza, amou estar nas alturas, com leves turbulências incluídas no preço da passagem. Chegou sã e salva ao Rio de Janeiro, cheia de expectativas para aquele feriadão de Páscoa recheado com F1. O ingresso da Mochileira dava direito apenas para o dia da corrida do Grande Prêmio Brasil de F1 de 1985 propriamente dito o que significava que sexta e sábado eram dias livres para passeios pela Cidade Maravilhosa... quantos sacrifícios! Como não era a primeira vez que Mochileira visitava o Rio, já se achava dona do campinho... e aventurou-se a visitar uma tia, passear por Copacabana...

E chegou o Sábado de Aleluia, véspera da corrida... combinou com as amigas, olheiras de sua mãe, de visitarem o Cristo morto numa igreja, jantarem juntas e depois irem ao teatro. Adorou a ideia. Encontrou com a Lenita e foram a uma igreja em Copacabana, um povo enorme reverenciando o Cristo morto, rezas e pedidos de bênçãos. De lá, encontraram a Martha Heloisa em um restaurante na Av. Atlântica, ela lhes entregou os ingressos para o teatro... a peça? Oh, Calcutá! Nada mais apropriado para quem acabara de visitar o Cristo morto... Só que até aí a Mochileira nem sabia do que se tratava a peça. Começou a estranhar quando, no teatro moços saradões ofereciam binóculos para alugar... A Lenita alugou um e emprestou para a Mochileira que apavorou-se ao ver um ator peladão em cena, e que cena!!!

Para refazer-se de tamanho susto foram as três para a famosa casa de espetáculos Plataforma 1 onde as bebidas estavam incluídas no ingresso... pior viagem. A Mochileira Tupiniquim com uma queda para tudo que é de graça ou incluído no preço emborcou uma dose enorme de uísque nacional só por esse detalhe... Sem falar que chegaram no hotel às 4:30h da madrugada! E o guia da excursão havia marcado o horário para o café da manhã do grupo para às 6:00h e partiriam para o Autódromo de Jacarepaguá às 7:00h sem atrasos...

Pobre Mochileira, pagou seus pecados todos... nem duas horas de sono e com aquela famosa dose de uísque... tudo bem diferente da sua vida regrada de costume! Seu estômago rodopiava... não fosse a experiente amiga da mãe, a Lenita, lhe dar um Sonrisal e a Mochileira perderia sua corrida de F1... [Arrependida da besteira, ela jurou, e cumpriu à risca, nunca mais repetir tal erro!] Contudo, devido à juventude e ao longo trajeto até o autódromo ela já estava recuperada quando lá chegaram, milagre dos céus.

A corrida? Uma loucura infernal de barulhos dos motores mais famosos do mundo! Arquibancadas cheias de fanáticos torcedores, gente atirando gelo uns nos outros, de meter medo... Ao contrário das transmissões pela TV ali não se podia ver os pilotos, não se sabia quem estava na frente... Tudo ótimo!! Até que o Ayrton Senna caiu fora... e para desespero da Mochileira quem venceu a corrida foi o arquirrival Alain Prost... era demais para a Mochileira Tupiniquim...