OS AVISOS DA MORTE (Envelhecer ainda é a única maneira que se descobriu de viver muito tempo. — Charles Saint-Beuve)

Sempre pensei sobre a morte como algo compulsório, mas compulsório mesmo é o desejo de morrer. Seria uma agonia tremenda a morte, se não tivéssemos o estágio da velhice, com mil motivos, para desejar a morte. "A morte parece menos terrível quando se está cansado", disse Simone de Beauvoir. E quando uma pessoa jovem morre, em uma missão perigosa, antes ela assumiu o risco de morrer, de certa forma estava preparada. E as doenças nunca nos pegam de surpresa, porém com a mesma lentidão que elas desaparecem, elas também aparecem. O ritmo é o mesmo. Deus seria injusto demais se nos dessem a morte repentina, sem primeiro nos conscientizar sobre ela como sendo Seu maior ato de amor para o nosso bem supremo, descansando-nos de uma vida cheia de pecados e consequências ruins. A maior justificativa divina é que, se ninguém morresse, então teria de parar os nascimentos! Quando uma fruta amadurece e cai, está se doando ao consumo. Amadurecer é preciso, e apodrecer é automático!

Quando uma pessoa se nega pensar na morte, ela está senão mostrando indisposição para amar a vida e se negando ao preparo, pedindo a imediata culminância de tudo, a fim de acabar a inquietação; isso jamais significa que ela está isenta do processo de maturação natural, melhor é aceitar em paz, não há como burlar as leis da natureza, "Envelhecer ainda é a única maneira que se descobriu de viver muito tempo." — Charles Saint-Beuve. À noite, com a cabeça no travesseiro, a reflexão acontece. "É na hora de dormir que os problemas acordam". E a conclusão óbvia: morte é uma benção para os sobreviventes.

As razões para matar tornam-se também razões para morrer, aquelas provocam estas! Quem mata sempre avisa. Ninguém morre sem consciência da morte, pode até ignorar os motivos, mas nunca deixará de receber justamente o aviso do depósito, pois "a morte é salário do pecado". Disse Epicuro: "A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais."