A Terra do Nunca (Crônica de Viagem)

Saímos logo pela manhã em busca da “Terra do Nunca”. Já tínhamos um guia previamente contratado e conhecido de uma de nossas amigas, desde sua ida aos EUA em 2009.

Estava uma típica manhã de inverno na California: sol brilhando, mas ainda assim um dia razoavelmente frio. O guia era bem diferente do que eu imaginava. Muito gentil, mas bem mais reservado que o nosso guia do dia anterior, limitou-se mais a responder o que lhe era perguntado, mas sempre com muita simpatia e empatia. Parecia mesmo que ele respeitava nosso sentimento de amor ao Michael, tão visível, quase palpável.

Todas estávamos fortemente emocionadas e íamos apreciando o caminho que ligava Los Angeles a Neverland. Logo de início, entendemos a escolha de Michael Jackson. O trajeto é algo especial. A natureza privilegiada nos ofertava visões lindíssimas de montanhas, mar, regiões desérticas mas com alguma vegetação , poucas casas, todas muito belas, e um céu intensamente azul, apesar da estação.

Depois de um bom percurso, chegamos a um lugar que já era bem parecido com as fotos que víamos sempre: árvores retorcidas, como a “Giving Tree” (1) e outras com as folhas avermelhadas eram abundantes nessa região. Fizemos uma rápida parada. O local lindíssimo (2) parecia ter sido tirado de uma tela ou um bom filme. Tratava-se de uma área pra camping e tinha um rancho de madeira, muito bem cuidado, parecendo ser um restaurante típico. Havia um conjunto de mesas estrategicamente organizadas em forma de U, decoradas com motivos natalinos e umas moças muito bonitas, que pareciam tão felizes, preparando com muito carinho os retoques finais para o que seria uma confraternização entre amigos. Fiquei com uma ótima impressão daquela região, já tão próxima do nosso destino.

Durante todo o caminho, íamos falando de cada detalhe, lembrando de fotos, vídeos e outros registros de Michael por aquelas paragens e tudo ia se juntando como peças de um quebra-cabeça.

Chegamos a um vilarejo muito pequeno e também pitoresco: Los Olivos. Tinha uma lanchonete chamada “Wendy”. Nem preciso falar mais nada.... Já deu pra ir sentindo o cheirinho de Peter Pan. O coração apertado, as palavras sumindo da boca, a respiração acelerando... e Gustavo, o nosso guia estacionou. _ Neverland à nossa frente!!!!!

Descemos da van. A estrada é estreita mas bem cuidada, as árvores tortas estão em toda parte, há flores, principalmente rosas brancas, muito perfumadas. Mas ele nos leva primeiro a um canteiro de.... PEDRAS!!!! Lá muitos visitantes deixam mensagens escritas nas pedras desde 2009. Começamos a ler o que podíamos, pois eram muitas. Tão lindas, tão dignas de nosso amado ... E tão tocante aquela cena! Andamos um pouco mais e chegamos ao portão de entrada. Grande, marrom, bem típico de fazenda. Não escondia a beleza estonteante do local, tampouco nos possibilitava ver as residências, nem os detalhes da propriedade. Alguns carros estacionados e homens trabalhando faziam a segurança do local e, apesar da cerca tão baixinha, não dava mesmo sequer pra tentar entrar. Pensei que se eu dominasse bem o inglês iria conseguir convencê-los a nos deixar fazer uma rápida visita (audaciosa eu!!!), mas todos acharam que isso seria inviável. Então, aproveitamos o que era possível. Tinha aquela casinha branca que é muito bonita, bem pertinho dos nossos olhos, canteiros, pedrinhas e lanternas escritas com dedicatórias, além de câmeras de seguranças e fios escondidos entre as frondosas árvores.

Sentamos embaixo da árvore maior e central do canteiro externo, andamos um pouco ao redor, sentindo o ambiente, respirando emoções. Pensei até em subir em uma das árvores, mas não sou hábil como Michael e a noção de respeito à propriedade alheia me conteve. Não depredamos nada, não escrevemos nada. Deixamos num banco ao lado da porteira um cartaz com fotos de nossos amigos fãs de São Paulo e mensagens escritas por todos. Foi a nossa singela dedicatória, além da nossa eterna gratidão, a Deus pela oportunidade de estarmos lá e ao MJ, por tudo que representa em nossas vidas.

A vontade de ficar sentadinha debaixo da árvore era imensa, mas tínhamos horário pra nos apresentarmos no “Saint Ynez Airport”, pra fazermos o vôo de helicóptero sobre Neverland, na tentativa de vermos mais detalhes.

Não era tão longe e, apesar de um erro no percurso, chegamos a tempo. Na verdade, estavam fazendo um vôo anterior ao nosso e ainda esperamos. Nunca vi como alguns minutos pareciam uma eternidade. Nesse tempo de espera, contemplamos a vista tão bonita do aeroporto, ele próprio – apesar de tão pequeno - bem cuidado, com belas árvores, bem ajardinado e mais uma vez pensamos em quantas vezes Michael pode ter passado por lá e visto aquela mesma paisagem, apreciando a beleza do local, contemplando a visão que, mesmo em direção a Neverland, ainda assim a ocultava dos olhos curiosos... Acho que ele se ria muito disso!

Quando o helicóptero pousou, três lindas e elegantes fãs japonesas desceram, totalmente “a caráter”. Com consentimento, tiramos fotos com elas, muito sorridentes. Eu admirei a alegria delas e pensei com meus botões: _Acho que não vou conseguir voltar sorrindo desse vôo....

Por questão de segurança, nosso grupo foi dividido em duas viagens e eu fiquei pra segunda. Mais uma angustiante espera. Por sorte, o guia ficou conversando muito comigo e mostrou-se ser alguém muito especial e com experiências incríveis. Ficamos sentados em bancos abaixo de umas árvores floridas. Parecia mais uma área pra piquenique, pois tinha até mesas, tudo bem bucólico.

Quando, após as instruções, finalmente embarcamos (o Gustavo também foi) meu coração já não se continha. Do alto, podia ter a idéia clara do que é um vale, das lindas montanhas que o cercam, como que dobraduras de veludo feitas pelas mãos caprichosas de Deus. Tive também a noção da distância imensa entre as milionárias propriedades locais, mas fui ficando triste durante o vôo. Fui vendo uma Neverland ainda bem cuidada, toda forrada com um belo gramado, o nome da propriedade esculpido em flores com uma borboleta de cada lado, como nos tempos dele...As árvores tortas – não identifiquei a “Giving Tree” - pois o helicóptero não podia se aproximar muito e porque a emoção não me deixou nenhuma porção necessária de razão. Vi também uma quadra de esportes, apenas o telhado da casa principal, a linda estação com o relógio floral, o grande lago bem azul, árvores de folhas douradas, outras casas, carros estacionados, uma enorme cerca branca delimitando espaços, o castelinho de contos de fadas, homens trabalhando... Tantos detalhes não preenchiam a falta principal: não estava mais lá o nosso Michael, rodeado de seus filhos, de outras crianças felizes, dos animais do Zoo, do Parque de Diversões, brincando com pistolinhas d'água, fazendo guerra de balões. Apesar de bonito demais, o local não tinha mais a vida de antes, a fantasia de antes, as cores de antes. Não tinha mais o Peter Pan.

Voltei muito calada. Tampouco chorei, apesar dos olhos rasos d’água.

Na mente, ecoava ao longe, uma voz doce e suave dizendo: “Eu queria um lugar com um espaço ilimitado, onde pudesse usufruir das montanhas e um passeio à cavalo. Todo tipo de diversão.

É simplesmente um lugar divertido. Eu amo isso! E eu sempre amarei. Eu nunca, jamais venderia Neverland. Neverland sou eu. Ela representa a totalidade de quem eu sou. Sério mesmo. Eu amo Neverland.” (Michael Jackson)

(1) "Giving Tree" - A árvore onde MJ se recolhia para buscar inspiração ao compor suas músicas.

(2) Cachuma Lake - lugar pitoresco usado para camping.

O vídeo do sobrevoo de helicóptero que fizemos sobre Neverland pode ser acessado por este link:

http://www.youtube.com/watch?v=ahTG_TWkwic&feature=youtu.be