Letras bobas, séria questão

Diz a lenda que, numa viagem de ônibus, um grupo de jovens deu vida a um refrão. Tempos depois, alguém do grupo, numa festa, deu uma ‘palhinha’; outro alguém ouviu, gostou da idéia e usou numa composição sua registrada, legal. Tempos mais tarde, caiu a dita nas graças de uma banda, que a pediu para gravar. Letra boba, banda sem glamour e, contrariando expectativas, foi um sucesso a canção, hit internacional. Sucesso gera dinheiro que move interesses que causam brigas. Do bolo de notas, todos queriam provar; e direitos de autor. Isso se deu numa terra distante, por ali por acolá.

Já em Fufu Lalau, sem saber o que fazer com suas letras, Armindo começou a publicá-las num site, onde qualquer um podia comentar. Belo dia, juntou Armindo letras, comentários, tudo num saco, deu um nó, chacoalhou; tirou de lá um livro novo que, contrariando expectativas, virou sucesso mundial traduzido em várias línguas. Sucesso gera dinheiro que move interesses que suscitam brigas e logo, muitos dos ‘colaboradores’ vieram reclamar sua fatia no bolo de notas que Armindo ganhou. Tivesse o tal livro nem existido, ou sido comprado apenas pelo próprio autor, estariam, quem sabe, as letras do Armindo inda hoje dormindo na rede, em companhia das tão caras ‘contribuições’. Para o último juiz que julgou este caso, a séria questão tinha uma lógica simplista, boba até: contribuição, se deu está dado, e o comentário é de quem recebeu. Não se sabe se isto valeria na Bruzundanga (1), mas bem pode ser que valesse no Brasil, tendo valido em Fufu Lalau. Pelo sim, pelo não: moral da história...?

(1) Os Bruzundangas, de Lima Barreto, disponível em:

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000023.pdf

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