Mania de Corrigir

Tenho esta marca há muito tempo, não o faço por mal. Certa vez, contou mamãe, num lugar paupérrimo à beira de um mangue, estava eu aos dois anos de idade corrigindo as crianças do local: "Não é TA-noooooooa, é CA-noooooooa..." Não com arrogância, pura vontade de ajudar. Se vejo algo fora de um padrão, logo sou compelida a pôr em ordem; pode ser neurose, vício de computar, por aí vai. Gosto também quando me corrigem; com ou sem gentileza, fico grata a quem o faz. Há pessoas, no entanto, que detestam ser corrigidas, evitam navegar no oceano da crítica sadia preferindo o cais e a segurança das inverdades cordiais. Cada qual tem suas razões, não questiono, respeito. Assim sendo, não é de hoje que tento corrigir esse meu defeito: parar de fazer gratuitas correções. Por vezes, todavia, reajo num impulso e quando penso que não era: já fui! É mania, me perdoem, difícil controlar. Como não posso prometer que não terei mais recaídas, ofereço em garantia o esforço de tentar – é mais honesto.

Texto originalmente publicado no Bluemaedel (bluemaedel.blogspot.com)