Eu, por mim (EC)
 
Procuro por mim, dentro de mim.

Quem fui eu? Quem serei?  Quem sou eu?

Anos de busca não conseguiram deixar clara a resposta – a impossibilidade advém do constante vir a ser.

Não sou estática, eis o que sei, ser em constante mutação desde tempos imemoriais.

O que serei amanhã não sou hoje, nem o que sou, fui.

Em águas turvas se reflete a minha imagem que também pode ser vista em águas claras, translúcidas.

Existe uma Essência, a imutabilidade.  Existe sim. Eis no que escolhi acreditar. Uma Essência que perpassa por muitas vidas, deixando um lastro de coisas acidentais. Sou um fruto descascável, até alcançar o miolo – o ser que É, integrado ao Todo. Mas é longa a Eternidade e enquanto isso...


Enquanto isso sou um Ser Humano, uma Pessoa, uma Mulher.

Qual um cristal multifacetado me apresento das mais variadas formas para quem me vê e essa visão depende da clareza de cada olhar.


Não me importa o que pareço ser, parecer não é ser, depende do outro e do que existe dentro da mente do outro. Todos os que me vêem fazem isso de acordo com sua própria capacidade de visão. Se não posso fazer meu auto-retrato, não posso também fazer o meu retrato de acordo com cada fotográfo que me observa. Mas existem coisas que consegui descobrir sobre mim mesma. Coisas de que não gosto e das quais pretendo ir me desfazendo, coisas de que gosto e que pretendo conservar, evoluindo.

Talentos? Sim, eu os tenho. Alguns  trouxe comigo, de onde vim. Não foi preciso esforço para tê-los, talvez essa a razão de não valorizá-los tanto. Outros,  conquistei. A duras penas, é verdade. De desbocada, transformei-me em contida. Meço o tamanho e o alcance das palavras que saem da minha boca ou das pontas de meus dedos. Por outro lado, deixei de ser aquela contida, incapaz de dar um abraço. Meus braços cruzados hoje estão prontos para abraçar todo mundo. Ou quase. Sempre gostei de gente e sempre estive pronta para ser enganada. Acho que hoje gosto mais de gente ainda, mas sei das possibilidades e impossibilidades dos seres humanos. Mesmo gostando de algumas pessoas sei o que posso esperar delas. Que muitas vezes é apenas nada e nada já é bom demais. Nunca perdi a capacidade de indignar-me, mas hoje consigo controlar essa capacidade para o que vale a pena. Não brigo por causa de Política, não brigo por causa de Religião, não brigo por causa de Futebol. Embora continue parecendo séria, e sendo, também sei rir, dar risada, gargalhar.

Sei mais do que não gosto e menos do que gosto. O gosto vou descobrindo e me espantando. Não nasci para ser “do lar”, mas aprendi a cozinhar e tenho bom tempero. Não nasci para ser mãe, mas amo algumas pessoas como se delas fosse a mãe. Sempre gostei de bichos vertebrados, do outro lado da cerca. Ou até dentro da jaula, com vontade de soltar. Fui adotada por dois doguinhos e eu que jurei nunca ser mãe de cachorro, ajo como se fosse. Quando falo deles meus olhos brilham. Tento não perder o controle, mas perco. O que me deixa descontrolada? Muitas coisas. Mentira, maldade, falsidade, injustiça, crueldade. Burrice, mas não a ignorância. Esta desperta meu lado educadora. Sou lerda e isso já não causa espanto para ninguém. Dessas lerdezas que contando ninguém acredita. Capaz de ir ao banco buscar dinheiro e sair sem ele. De voltar para casa a pé depois de ter saído de carro. De nunca saber onde estão as chaves ou os óculos. Algumas amigas dizem que sou surpreendente e por isso já não se surpreendem mais. Para quem me conhece desde que cheguei aqui, certamente sou um mastodonte, mas pelo menos garantem que estou do mesmo jeito, que não mudo nunca, o que me deixa ressabiada porque sempre pensei que estivesse melhor. Para minha mãe eu sempre fui muito nova ou muito velha para fazer qualquer coisa e isso vai continuar enquanto a gente estiver por aqui. Para meus pais e a família deles sou a Maria, para meus irmãos e meus amigos a Maria Olimpia, para os sobrinhos e amigos especiais, a Merô. Para pouca gente, sou Pia. Gosto de brincar com meu nome criando mil variações e vou usando esses nomes principalmente na net. Para chegar ao meu blog do RL é preciso saber que sou também a Marilim - http:// marilim.net – Para o meu e-mail escolhi molly_mell. Também posso ser MO/MOAM. E enquanto realmente não descubro quem sou, posso ser muitas. Posso ser quem eu quiser.

Para ler os outros autores que participaram desse desafio Auto - retrato vá até: 
http://encantodasletras.50webs.com/autoretrato.htm