Políticos e os cachorros

     Passadas as "inleições", cá e nos Estados Unidos, ponho-me aqui a escrever sobre políticos famosos e seus cachorrinhos de estimação...não menos.

     Não imagine o leitor outra coisa... Embora saiba que você gostaria de ler o que, nessa minha ruminação pós-eleitoral, podia dizer, mas não devo. Quem sabe se nossos pontos de vista não coincidiriam plenamente? Mas, cala-te boca!

     Perguntarias, porém, o que me levou a este assunto. Fácil: a leitura que, nas horas vagas, venho fazendo de um livrinho (pequeno no tamanho) intitulado 100 cães que mudaram a civilização, tendo como subtítulo Os cães mais influentes da história
     Se o livrinho é sobre cães, por que, então, ligá-los aos políticos? Vós conhecereis a seguitr, meu dileto leitor, alguns causos que explicam essa estranha conexão. 

     No introito do livrinho, lê-se essa frase de Alexander Pope: "As histótrias têm mais exemplos de fidelidade de cães do que de amigos." E quem foi Alexander Pope? Pope(1688-1744) foi um dos maiores poetas britânicos do Século XVIII.
     Pensando bem, não é que o gringo tem inteira razão? Queria lembrar que, sobre essa "verdade eterna",  tratei, aqui neste re-canto, quando modestamente croniquei sobre cachorros e cadelas famosos, entre eles, o conhecido Péritas, o cão que salvou Alexandre, O Grande. A conferir.

     Nesse momento, o que interessa são os cãesinhos (pára com tanto diminutivo; parecendo o Manuel Bandeira, que tinha essa saudável mania) são os cãesinhos que marcaram pontos na vida e na história de conhecidos líderes políticos, seus donos.

     Abro um pequeno parêntese para dizer que os presidentes brasileiros, pelo menos ostensivamente, não cultivam paixões por cachorros. Na história pátria recente, houve um que se declarou dominado pelo amor sem limites aos cavalos. Por tudo isso, deixemos nossos presidentes de lado.

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     São três estórinhas envolvendo dois presidentes norte-americanos e um imperador francês. Lembrando, que não as inventei; estão no livrinho.
     Estórias que re-conto com este objetivo: divertir o meu leitor que, como eu, acaba de sair de uma massacrante e chata campanha eleitoral. Oh! Foi um saco ter que ouvir as asneiras que se andou dizendo Brasil afora. E o que é pior: daqui a pouco tem mais. 

     Começo com Fala, o cachorrinho do presidente Franklin Roosevelt (1882-1945), o único presidente a governar o seu país por quatro mandatos. 
     O cão - perdão, não gosto de chamar cachorro de cão. Em Coisas que o povo diz, Luís da Câmara Cascudo lembra que "para o povo cão é sinônimo diabólico". 
     O cachorrinho do presidente Roosevelt, Fala, um terrier escocês, é o que se diz, alegrou os últimos anos de vida do famoso político dos Estados Unidos. 
     Ele acompanhava seu ilustre dono em suas viagens de lazer e viagens oficiais, inclusive ao exterior. Privava da intimidade da Casa Branca, recebendo especial tratamento dos asessores e mordomos do dono da mais cobiçada casa presidencial. 
     Conta-se, que numa viagem de Roosevelt às Ilhas Aleutas, Fala teria sido esquecida em uma das escalas das comitiva oficial. E que o presidente não hesitou em desviar a rota de um destroier só para resgatar o seu cachorro. 
     A oposição não gostou. "Um escândalo!", disseram os opositores. Roosevelt não pensou duas vezes: chamou o país, e pronunciou o famoso "Discurso Fala".
- "Esses líderes republicanos - bradou o presidente - não se contentam com os ataques à minha pessoa, ou à minha esposa ou meus filhos."  E completou: "Não; não contentes com isso, eles agora incluem o meu pequeno Fala." E que depois dos ataques,  Fala "nunca mais foi o mesmo". 

     Roosevelt morreu em 1945. Foi enterrado sob os olhos consternados do seu mimado cãozinho, que continuo morando com a viúva, Dona Eleanor Roosevelt, até morrer, no ano de 1952. 
     Se no Memorial Franklin Roosevelt, em Washington, você encontrar uma enorme estátua de um cachorro, é o Fala.

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     A segunda estória. 
     Checkers era o nome do cachorro e Richard Nixon era o seu dono. Tudo aconteceu, vinte anos antes do Watergate, quando o presidente Nixon, pressionado pela opinão pública do seu país, renunciou o mandato, em cerimônia dramática.
     Nixon, em 1952, candidatou-se a vice na chapa encabeçada pelo austero General Dwigt D Einsenhower à presidência da República dos Estados Unidos. De repente, o escândalo: Nixon é acusado de ter embolsado nada menos do que 18 mil dólares "em contribuições ilegais de campanha."

     Primeira consequência: Einsenhower pensa em retirá-lo a candidatura.  E Nixon, político sagaz, vai à televisão, e faz o "Discurso Checkers". 
     Mostra suas modestas finanças, e declara: " As crianças, como todas as crianças, amam o cachorro, e eu só quero dizer neste momento que, independentemente que digam sobre ele, vamos mantê-lo." 
     Checkers, um cocker spaniel, salva a carreira política de Nixon, até o caso Watergate.


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     E a terceira estorinha, recheada de romantismo.
     Fortune era o nome da cadelinha. Sua dona: Marie-Josephe-Rose de Beauharnais, uma aristocrática francesa. Depois da Revolução Francesa, foi aprisionada com o seu marido, o visconde Alexandre Beauharnais, que foi guilhotinado.  
     Rose permaneceu presa. Apenas a visita de Fortune lhe era permitido receber. Sempre que deixava o presídio, Fortune levava bilhetinhos de Rose para amigos influentes.
Muda o governo e a aristocrata é libertada. Grata à cadelinha, Rose permite que ela durma em sua própria cama. 
     E aí, o surpreendente. Josephine, era assim que ele a  chamava, apaixona-se por Napoleão Bonaparte, futuro imperador da França, com quem se casou no dia 9 de março de 1796.

     Na noite de núpcias, o impasse: Fortune não permitiu que Napoleão, já imperador, ocupasse seu (dela) espaço na cama de sua dona. Napoleão exigiu sua saída.  Josephine toma a defesa de Fortune: "Se ela não dormir em nossa cama, eu também não durmo." 
     
     Napoleão reage. Agarra a cadela nos seus braços. Fortune, raivosa, aplica-lhe "uma mordida feroz, cuja cicatriz, ele carregaria pelo resto da vida". 
     Foi a derrota do imperador Bonaparte, não num campo de batalha, mas no seu leito nupcial.

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     Três velhas estórias - crônicas de uma época - narradas nesta insignificante croniqueta. Mas é assim: nas crônicas, fala-se do presente e do passado mais remoto. 
     A crônica, "se não é o gênero literário mais apreciado, é o mais lido no Brasil", frisa a escritora Antonieta Cunha prefaciando Cecília Meireles - Crônicas para jovens.

     E alegra os brasileiros desde Machado de Assis, meados do Século XIX, quando aqui chegou, vinda da França.
  
 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 18/11/2012
Reeditado em 18/11/2012
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