Prendada e agradecida

Sou da época em que era divertido e útil aprender trabalhos manuais, aprendi em casa, na casa de minha Tia Nélia, na escola. Era terapêutico ainda que eu não soubesse.

E sei colar, recortar, trançar, desenhar, criar, consertar, passar, lavar, tratar peixe. Desenvolvi habilidades manuais e sensoriais e sou grata por cada um que me ensinou e por quem ainda me ensina, pois não canso de aprender.

Muita coisa eu aprendi com com meu pai, painho, seu Guillermo, um concertador e inventor nato, além de padeiro, confeiteiro, jardineiro, conhecedor e narrador de muitas histórias de filósofos, reinos, mares e personagens clássicos da literatura espanhola e mundial.

Tão poucas crianças, meninos e meninas, as pequenas e principalmente os adolescentes de hoje se interessam ou são incentivadas a aprender um trabalho manual. Ai na maior idade , imagino, seguirá esse desdém, acompanhado da falta de prática e de destreza próprias da idade avançada e ai o que fazer?

Ser pessoas ranzinzas,ou se aventurar em aprender antes tarde do que nunca ou ficar navegando nas redes sócias de dia e ira pra balada a noite, o que não acho que seja uma boa ideia.

Lá dos idos de muito tempo moça prendada bordava, cozinhava e outras coisinhas que preparavam suas habilidades para ser uma boa esposa, dona de casa, mãe de família e no futuro uma avó ocupada e dinâmica.

Os homens sabiam, sem exceção a regra, concertar coisas, faziam tarefas que representavam sua masculinidade, habilidades e ainda eram cavalheiros. Perdoem-me as feministas e toda modernidade tão suada, mas bons tempos aqueles. Uma correção aqui e outra ali, no que tange a submissão e diferenças infundadas de direitos, tudo estaria indo muito bem obrigada.

Meninos hoje não jogam gude, não empinam pipa, não tem destreza, nem paciência nem veem nenhuma utilidade em tais brincadeiras que não ganham bônus e não da pra publicar, nem ninguém curtir. Meninas não trocam papéis de carta, pulam corda, brincam de bambolê, boneca ou casinha. Tudo coisa de menininha.

Não vejo mais anúncios e o ofício manual e fascinante de empalhar cadeiras, não vejo mais engraxates. Tá feio? Sujo? Passa um pano ou joga fora e compra outro, são de péssima qualidade mesmo.

Até pipoqueiros ando vendo poucos por aqui e por ai. Será que só vai existir pipoca das do cinema? Aquelas que custam o preço de um sanduíche e só tem porção monstra, sem aquela manteiga derretida, sem opção de colocar coco ralado, queijo ralado, leite-moça e outras esquisitices tão prosaicas.

Cadê os amoladores de tesouras, que passavam com a máquina que afiar, tipo um monociclo e que apitavam uma musiquinha. Cadê os vassoureiros e os vendedores de coisas em tabuleiros na cabeça que passavam gritando pelas ruas?

Por aqui havia um tal de Acaçá. Já ouviram falar, comeram, sabem o que é?

Eu não sei o que era, mas comia, de leite e de milho e adorava e minha nem inventava que fazia mal, que não sabia de onde vinha e todas esses cuidados apocalípticos de hoje em dia. Eu também comprava picolés desses que também não vejo mais pela rua, vendidos em isopor, que iam muito além de sabor chocolate e morango. Tinha de tapioca, umbu, tamarindo e o preço era uma delícia.

Tina Bau Couto
Enviado por Tina Bau Couto em 31/01/2013
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