Depois de setembro

Depois de setembro alguém me manda uma carta. Abro, cai um retrato desbotado. Tem nele um sorriso largo uns olhos grandes e gulosos. No remetente apenas uma frase dita sem significado para quem aguenta numa mão um copo e na outra um cigarro.

Lembrou de mim um desconhecido qualquer. No universo todo de quadras separadas por pequenas distâncias. Ninguém aperta a campainha e pergunta: ainda vives?

Será desgosto o gosto no céu da boca?

Novembro chega, é dia dos mortos e todos já estão mortos.

Tirei todas as fotos das paredes não quero gente morta me seguindo com seus olhos do além. E mesmo querendo nenhum fala nada no silêncio túmulo desta casa.

É natal! Há quanto tempo não ouço uma canção boba falando de paz. Rasgo o jornal, jogo o lixo na lata e finjo ter gente tomando sopa comigo na mesa.

Aproximo-me da janela tem um casal com filhos esperando os parente e amigos. Parecem felizes! A criança pequena puxa a saia da mãe e o filho mais moço olha outro moço passando na rua. Os dois talvez sejam namorados, talvez sejam amigos, sejam algo enquanto ainda podem! Pouco me importa a vida de alguém quando a minha vida é superficial.

Chega o ano novo! Tem só um prato e uma taça. Tem uma cadeira também. Dizem existir um espírito a visitar solitários. Nenhum cruzou o vão da porta. Ao amanhecer estarei morto diz uma voz dentro de mim!

Caminho tropeçando, busco um lençol. Subo na cadeira. O prendo no teto, parece ter sido feito para este momento! O amanhecer não vai me ter posso evitar ver o sol de novo. Quando estico o corpo e o empurro para frente um barulho novamente lá fora me chama a janela.

É o moço beijando o outro. E eu não me mato!