Descascando cebolas. (EC)
 
Também já vivi a fantasia de ser outra pessoa, mas ninguém em quem eu me espelhasse, apenas um sonho, uma mulher onírica. Bonita, elegante, rica, corajosa, inteligente, talentosa. Brilhante.

Também já repassei muitas vezes o que supostamente eu poderia ser sendo eu, apenas tendo feito outras escolhas.

Se...

Se eu tivesse conseguido ir para a cidade grande freqüentar uma Universidade e me transformado em uma fantástica profissional nas áreas que me atraiam na época, Jornalismo ou Direito.

Se eu tivesse me casado com A,B,C ou D e seguido uma vida de mãe de família, dona de casa...

Se eu tivesse me mudado para o exterior...

Se eu tivesse lutado bravamente para me tornar uma escritora famosa...

Se eu tivesse seguido a carreira política, como era o sonho de meu pai...

São tantos os se que não escolhi embora nem mesmo tivesse muita consciência disso.

Quando fui fazer Curso Superior, escolhi Filosofia. Era uma coisa que eu queria, um objetivo claro para mim – eu queria aprender a pensar. Sem nenhum outro objetivo. Aprender a pensar. Até hoje pessoas pensam que fiz outros cursos, por causa de meus interesses. Letras ou Pedagogia.

Já pensei sobre isso antes, não é agora que estou pensando.Faz muito tempo que tenho certeza – a única pessoa que eu queria ser no mundo sou eu mesma. Do jeitão que eu sou. Vivendo como vivo. Pensando como penso.

Ah, se eu não fosse quem eu sou ficaria  muito frustrada. Não porque me ache melhor do que qualquer pessoa, de jeito nenhum, não é isso. Mas simplesmente porque para chegar onde cheguei foi preciso me desfazer de muitas máscaras, retirá-las do rosto como se retiram as camadas de uma cebola. E o pior (ou melhor?) é que ainda não cheguei ao Fim, estou ainda em construção (Ou seria desconstrução?).


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