"Recordações de uma menina"_Capítulo 6

Nota: O capítulo 5 é "A barata", já publicado

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Série "Recordações de uma menina"

Capítulo 6

Década de 30

Bairro Ipanema

Gostaria de deixar registrado que o que está sendo relatado aqui são apenas observações de uma criança pequena, na época, não sofrendo interferência nenhuma de ninguém, porque mesmo se quisesse, a maioria já está desaparecida. Os falecimentos foram em série, mas isso é apenas um apêndice que resolvi inserir para melhor apreciação. Essas interpretações não foram desmentidas, nem na ocasião, como depois, à medida que eu as relatava, porisso as considero verídicas , sem dúvidas que não se tratam de divagações infantis.

Minha lembrança volta aos tempos de Ipanema e seus moradores. Época áurea de minhas divagações infantis, com todo o brilho das memórias como, atualmente são, mas com a nostalgia das lembranças, e das saudades gostosas em sentí-las.

Defronte à casa da Olga, há uma recordação de pessoas e hábitos concernentes à elas, existia e ainda existem as duas melhores residências do local, a da Olga e dessa família. Morava nesta casa um casal, mais vizinhos que amigos, com uma filha única, com uma vida até chamada de pomposa para a época.

A Olga costumava relatar fatos da extrema atenção e cuidado que tinham com aquela filha única. O que me chamava atenção e até agora me faz recordar é que diziam que eles tinham mordomo todo enfatiotado que exercia muitas outras funções , sendo uma a de levar o café da moça na cama , de luva em punho e com tudo de prata e cristais, com uma rosa na bandeja. Cansei de vê-lo assim vestido, mas não podia imaginar que era nível de vida assaz elevado. Lá dentro da casa era um primor de bom gosto, mas não me surpreendia muito porque na época iso era comum entre nós e todas amizades de então . Como isso era comentado,as luvas do mordomo, as pratas, cristais e as rosas... O que eu percebia era a imensa educação de todos lá, a finura de trato entre todos que compunham aquela família. De vez em quando aceitavam comparecer às reuniões lá na casa da Olga e, posteriormente, em outras casas de Ipanema. Eram educadíssimos, ele e ela de tal maneira simpáticos que caía no gosto da gente. Eram também muito reservados, quanto à escolha de amizades.

Dalí daquela redondeza me lembro só disto. Mais adiante , já em outra rua morava tia Aìda, irmã de tio Nhonhô e de tia Zinha. Era casada com tio Xandinho( Alexandrino Ramos) , tendo como filhos Paulo Roberto e Edson. Como disse a Olga era irmã de tio Seth, que era casado com tia Zinha, pra avivar os parentescos. O marido da Olga era João Tavares, pessoa muito falante, simpática e expert em seus passeios de barco e mestre nas ditas pescarias, que eram constantes. Da casa da tia Aída, não me lembro de muita coisa, só da extrema amabilidade dela e carinhos em profusão para todos os que tinham a ventura de conviver com ela. O Edson, filho menor, fazia parte das nossas brincadeiras. Moravam num apartamento de prédio baixo e não costumavam por cadeiras na calçada, porque era proibido para quem morasse em edifícios. Mas em casas as calçadas eram todas dos proprietários. Lá em casa também não púnhamos, pois era em apartamento que morávamos.

Tinha mais duas casas do círculo de amigas que não eram muito visitadas, apesar de serem parentes mas não tão próximos, a concentração era mesmo na casa da Tia Zinha, mulher encantadora, simpática, instruida , cuja cultura às vezes era motivo de inveja de muita gente.

Poetisa, inteligentíssima, poliglota e de un realce em tudo que se metia, mas tinha que ser assim, pois tio Seth, maravilhoso artista com exacerbadas verves em literatura, tinha que ter mesmo escolhido para se casar uma pessoa de sua altura de cultura e inteligência.

O que estou relatando aqui não está obedecendo cronologias, são apenas drops de fatos lembrados e tentados por em evidência.

Myriam Peres

21/02/2002

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 16/08/2005
Código do texto: T43099