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O Despertar tardio

A paz, a mansidão, a harmonia, qualidades de um povo que, de tão quieto, parecia defunto, de repente rompeu o silêncio da acomodação. O povo foi às ruas e, como sempre, onde há multidão há aproveitadores.

Muitos dos que resolveram mostrar a cara, gritar seu silêncio adormecido, não entendeu quando os oportunistas apareceram e transformaram o que era para ser um belo momento cívico em uma guerra sangrenta e sem sentido.

 
Nós, e somos milhões, não estamos a favor da violência, do vandalismo, da bagunça, da desordem, da intolerância. Mas, também não aceitamos que aposentados sejam chamados de vagabundos, homossexuais sejam agredidos, negros sejam mortos por serem confundidos com bandidos, assim como discordamos da desordem no progresso e do caos instalado nas cidades, reflexo do caos interior de defuntos (leia-se cidadãos) agredidos em seus direitos.
 
Discordamos das denúncias que maculam a imagem da nação, apontam pessoas de bem como chefes de esquema, escondem verdades para promoveram a mentira, maquiam dados para propagar o medo e o terror. Agora chega! Soltemos o grito de basta!  A visão que temos, vista por todos os ângulos, mostra que aquela multidão não é feita apenas de pedestres que querem atravessar a rua, nem estão unidas para uma festa de confraternização.
 
Estas pessoas somos todos nós, minorias reféns das políticas de exclusão, do preconceito, do medo, da violência, da falta de assistência em saúde e da insegurança. Somos frutos das escolas que não nos formam como deveriam, das famílias desestruturadas, do fanatismo religioso. Por mais distantes que estejamos dos grandes centros, temos as mesmas dores e os mesmos sentimentos, os mesmos problemas.
 
O combustível da revolta é a insatisfação, mas quem está acendendo o pavio são os aproveitadores. Aqueles que silenciaram durante a ditadura, que foram coniventes quando o Brasil estava sendo vendido. A luta, até mesmo a revolta, era legítima até o momento em que não se combateu violência com violência, intolerância com intolerância.
 
Como posso pedir respeito desrespeitando? Como posso exigir meus direitos agredindo os direitos do outro? Como posso reivindicar meu espaço profanando o espaço do outro? Como posso caminhar tranquila e segura impedindo o direito de ir e vir de meu companheiro?
 
Não podemos permitir que nosso sonho de melhoria se transforme no pior dos pesadelos. Vamos lutar por tudo que acreditamos e temos direito, mas de forma ordeira, verdadeira, sem máscaras. Que o grito do gigante que acordou não se transforme em um lamento de dor e morte de uma multidão inocente.
 
 
Este texto faz parte do EC A Revolta dos Defuntos.
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Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 05/08/2013
Reeditado em 19/07/2014
Código do texto: T4420481
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