Os ipês floridos da estrada de Jabó



O tempo anda tresloucado,mas, apesar de tudo, nada é mais surpreendente do que a natureza.Sempre tive um encantamento pelos ipês. Acho os ipês umas das árvores mais lindas que existem, além de considerá-las extremamente filosóficas. É que toda a sua esplendorosa beleza fica invisível durante o ano, como uma noiva apaixonada e cheia de escrúpulos , que se resguarda ao olhar ansioso do noivo e não deixa nada se revelar antes do tempo.

E por falar em tempo, como anda de ponta-cabeça, mudando as estações, encurtando o outono, menopausando o inverno ( calorão misturado com um frio suave em alguns dias e um frio intenso em outros), transformando primavera e verão em gêmeas idênticas (ou quase). Com isso , os ipês maravilhosos também deram de engalanar a natureza em períodos tão distintos de antigamente.  Antes a floração abria a primavera. Depois passaram a dar o ar da graça no final de julho e início de agosto. Agora eles estão mais atentos à carência humana de uma contemplação que encha a alma, que enterneça os olhares tão cansados da crueza da vida.E, os lindos ipês, estão florindo em junho, julho, agosto e setembro.

Acabei de passar pela estrada de Jaboticatubas         ( Jabó para os íntimos) . A explosão de amarelo seduz todos os olhares de quem passa por ali. De vez em quando vislumbramos um ou outro rosa ou branco,mas o amarelo reina majestoso.

Não dá para ignorar a profusão de flores caídas no chão, formando um imenso tapete para carros, ônibus, caminhões e transeuntes. A paisagem já castigada pela estiagem nesta época do ano se transforma como pura magia. É como se Deus usasse sua varinha de condão para se revelar ao povo que anda tão afastado d’Ele,como a dizer: Estou aqui, em cada flor caída na estrada, em cada árvore dourada para que sintam o meu carinho, a minha presença.

E por que acho essas belas árvores guardiãs de uma preciosa filosofia? É que a sua beleza tão fugaz e única faz delas um tesouro protegido na natureza.Os ipês passam despercebidos todo o ano,até que,num piscar de olhos,eles aparecem do nada,como num passe de mágica e transformam toda uma paisagem,fazendo de cada pedacinho da natureza uma imensa tela de Renoir.Quanto à filosofia,a gente pode concluir com a nossa atenta e amorosa observação que o que é bonito não precisa ser eterno , uma vez que a beleza depois de capturada pelo olhar,torna-se indelével , passa a povoar as nossas lembranças definitivamente.

Enquanto passava pela estrada de Jabó...