Crônica XXV - Uluru

Ana Esther

Austrália, setembro de 1999. A Mochileira Tupiniquim continua sua viagem com o ônibus Oz Experience. Agora ela está em Alice Springs, e nem encontrou aquela Rainha do Deserto, a Priscila! Também, tão ocupada que estava em organizar seu passeio até o monólito mais famoso do mundo, Uluru...

Às 6:15h da manhã o grupo embarcou no ônibus da Adventure Tours com destino à região de Uluru e o KataTjutaNational Park cruzando pela longa Stewart Highway (rodovia que liga Darwin-Alice Springs- Uluru-Adelaide, ou seja, corta a Austrália de Norte a Sul). Pela estrada, a paisagem fascinante do Outback, interior árido da Austrália, uma terra vermelha seca onde a Mochileira viu vários dingos e cangurus mortos e no céu águias como que seguindo o ônibus. O calorão era tanto que houve muitas paradas para o grupo beber água e reabastecer o ônibus com galões de água para o acampamento onde todos pernoitariam... Uma vez lá, não haveria mais onde comprar mantimentos, tudo tinha que ser levado no ônibus!

Ao meio-dia, o ônibus chegou ao Ayers Rock CampGround –Ayers Rock foi o nome europeu de Uluru, templo sagrado dos aborígenes australianos, desde 1873 (só em 1985 voltou ao nome original). O acampamento oferecia várias barracas e banheiros e cozinha coletivos. Cada um colocou sua mochila nas barracas e depois era hora de preparar o almoço (saladas de ervilha e milho enlatados, alface, salsichas, pão e complementos para o pão, tipo ketchup, mostarda, molhos, manteiga... café, chá, sucos, água)todos tinham sua tarefa. Com a barriga cheia das guloseimas, a Mochileira estava pronta para o passeio da tarde a KataTjuta, formações rochosas de beleza impressionante, pedras arredondadas enormes, avermelhadas, de milhões e milhões de anos!!! A caminhada durou cerca de três horas, a Mochileira teve que beber mais de dois litros d’água, pois o calorão seco era de matar! Antes de retornar ao acampamento o motorista Tim e a guia Phillipa levaram o grupo até um local próximo a Uluru para que todos pudessem testemunhar a luminosidade do anoitecer transformando o colorido de Uluru, um fenômeno inenarrável!!! Até vinho frisante eles distribuíram para o pessoal celebrar aquela magia da natureza... a Mochileira ficou muda diante de tanta formosura e brindou ao anoso monólito.

Com tantas maravilhas ainda nos olhos, o grupo voltou ao acampamento para o jantar, um churrasco à moda australiana. Exauridos, todos queriam mesmo era dormir, pois no outro dia levantariam super cedo... A Mochileira foi a cobaia da Phillipapara demonstrar a montagemdo Australianswag, saco de dormir australiano... Em seusswags, a Mochileira e seus companheiros de viagem dormiram a céu aberto, cheio de estrelas, em pleno centro árido (desértico???) da Austrália!

Isso é que é madrugar, às 4:30h já estavam todos em pé preparando o desjejum, pois devido ao calor o grupo deveria chegar a Uluru até às 6:00h se quisesse fazer a caminhada ao redor do monólito ou escalá-lo. A Mochileira e alguns colegas levaram duas horas para circundar a rocha, examinando suas reentrâncias, a consistência meio porosa da pedra, a vegetação típica com árvores ressequidas e outras com folhas bem verdes, pinturas rupestres dos aborígenes na rocha, locais sagrados que não poderiam ser fotografados e até um poço formado por água da chuva que escorre pela rocha e se acumula ali. A Mochileira ainda pôde escalar Uluru até uma altura permitida para observação, que visão do deserto em volta, nossa!

Após as 10:00h o calor era tanto que não era nem permitido aos turistas permanecerem por lá... Foram então para o Cultural Centre não muito distante dali, um museu da cultura aborígene local onde puderam ver objetos, artesanato, pinturas, esculturas feitos pelos grupos de aborígenes da região.A Mochileira estava extasiada ao ver uma das mais antigas culturas ainda remanescentes por aí, uma vez que os aborígenes andam pela Austrália há uns 50 mil anos!

Mas ela não podia ficar em Uluru para sempre, né....seguiu com o grupo para Watarrka (ex-King’sCanyon), um cânion com rochedos de cores, formações e profundidade formidáveis. E aí a brincadeira correu solta, a guia Phillipaensinou um truque fotográfico numa protuberância do rochedo onde o pessoal pulava e fingia que estava se grudando à rocha para não cair... teve fila para as fotos com os “efeitos naturais”.

Depois de tanta diversão, a próxima tarefa do grupo era recolher gravetos secos pelo caminho para alimentar uma fogueira no acampamento onde fariam uma janta ao redor da fogueira. A Mochileira vibrava ao aprender a preparar o famoso Damper Bread (bushbread = pão feito numa forma de lata e cozido na fogueira!). A turma estava animada e todos jantaram o bufê de galinha com abóbora, cenoura, batata e brócolis conversando ao redor da fogueira, única fonte de luz e calor... o frio já era terrível! Até que o cansaço foi tomando conta, a Mochileira se aprontou e deitou-se em seu swag para mais uma noite de sono ao ar livre, ao redor de uma fogueira, sob o céu, estrelas e lua, no meio do nada. Bem, do nada não... ali bem perto havia um montão de dingos e cangurus selvagens, cobras de toda a sorte, lagartos agigantados, mosquitos e outros insetos malvados...