Viva o Chile,Viva a Civilização e a Educação!

Uma viajem ao Chile-Civilização.Educação

Após seis anos cuidando solitária de meus pais doentes,enquanto atendia o consultório situado no Gabinete de meu pai , estando ele com Isquemia cerebelar, e ela com duas vértebras quebradas o que a impedia de andar,comecei a sentir certo aborrecimento e ansiedade:me faltava lazer para manter minha saúde mental e ajudar mais os dois.

Resolvi,então sair por três dias.Contratei uma cuidadora profissional de idosos para eles,cancelei minha agenda e decidi ir para Santiago do Chile em uma viajem que me sussurraram no ouvido ser linda, via ônibus.

Era um pequeno ônibus,confortável e vermelho onde só se alojavam poucos passageiros.Na maioria eram rapazes,homens maduros e somente uma senhora que ,ao meu ver ,só veio me fazer companhia se mostrando muito agradável e simpática durante toda a viajem e cujo idioma em voz baixa,cultivada, era como música para mim. Diga se também que sabia se calar e fazer silencio no momento certo!

Rumamos em direção a Santiago na estrada estreita e esburacada, que nos dava sacolejões no pequeno ônibus vermelho.Era íngreme e pequena,mal podiam passar dois grandes veículos simultaneamente.No princípio a paisagem se mostrou àrida e pedregosa,mas aos poucos,mas depois!!

Desfilavam para nossos olhos extasiados , com a pequena a sensação de mediocridade que se nos tomou conta,majestosas,enormes e vitoriosas,quase a tocar o azul límpido do céu,montanhas,picos,caminhos de um lado a outro enregelados,brancos, ou se preferirem cobertos de neve. Tudo imaculavelmente branco,baixo, ou alto, e mais o azul do céu,a pequena faixa de asfalto negro e o minúsculo ônibus que subia ,fazia a volta,descia implacavelmente, ganhando terreno entre as enormes geleiras e mais,mais o horizonte branco que se mostrava como a dizer:_”Falta muito para aqui chegarem”.

E foram 14 horas de viajem mostrando maravilhas a cada metro ganho pelos pneus de nossa viatura que,comparada à imensidão dos morros nevados parecia cada vez mais pequena.Íamos sós pela estrada pois somente de meia em meia hora ou uma hora,duas, passava outro veículo.Tremula de medo que nossa vam estragasse,que lhe furasse um pneu ou simplesmente atolássemos na neve que vinha lambendo ,se avizinhando da estrada enrolei me mais em meu quente casaco de pele sintética.E Valle Nevado ficou para trás coloridos pelo gorros do esquiadores.

No interior do ônibus a atmosfera era de profunda admiração e aqui ou ali se divisava,distante,uma estação de esqui com suas aconchegantes cabanas.

Fizemos uma parada para revistarem nossas bagagens frente ao temor que portássemos qualquer armamento e nos liberaram para um pequeno restaurante agradável e aquecido onde só havia um prato,típico, do lugarejo.Eu,como,quando viajo sempre peço a comida típica,me alegrei,mas logo me decepcionei pois eram ervilhas ao vapor e batatas,deliciosas entretanto.O grupo se uniu em uma grande mesa e rimos e conversamos muito principalmente sobre o fato de sermos contrabandistas de armas.

E a viajem seguiu,aos poucos a neve desapareceu e foi substituída por uma verde e queimada vegetação rasteira.Finalmente,chegamos a Santiago,onde estava frio mas não nevava.

Tomei um táxi e pedi ao chofer que me deixasse em um pequeno hotel três estrelas e confortável.Foi breve a chegada ao hotel e esta foi minha primeira surpresa em Santiago pois o motorista sabia que eu era brasileira,desconhecia a cidade e nem hotel tinha!Podia muito bem fazer voltas e reviravoltas para que o taxímetro corresse e entrasse mais dinheiro.Mas não, foi correto e carregou minha mochila para um pequeno hotel aconchegante,pequeno,mas confortável e muito bem decorado,cujo dono me levou ao quarto educadamente.

Liguei para casa e minha mãe me informou que meu pai havia sido hospitalizado.Frente à gravidade de sua doença tomei a decisão de voltar no dia seguinte e aproveitar a noite em Santiago.

Tomei um banho bem quente,pus um terninho e saí à caça de algum restaurante nas redondezas.Dei voltas e voltas pelas quadras geladas e ruas retas e nada!Decidida a tomar um vinho chileno acompanhado de queijo ,procurei um Super Mercado.Novamente nada e voltei ao hotel,derrotada. Falei com o dono que me disse,entre risos:-“A Senhora viu esta velha casa ao lado do hotel,sem pintura e toda esburacada?Pois há uma escadinha na lateral,cuide,seus degraus estão gastos,suba e entre e vai encontrar seu restaurante’!

Caí numa fria pensava enquanto subia,driblando os pedregulhos da escada que teimavam em sobressair à luz.O interior também era envelhecido,aqui e ali viam se marcas de goteiras e a pintura do local caía,entretanto,para minha surpresa,os móveis eram perfeitos,em madeira de lei e as cadeiras muito convidativas.Haviam uma sala grande com quatro mesas e uma salinha com somente uma.Optei por esta já que ia jantar só, e estava me acomodando quando um Senhor de avental se aproximou sorridente:-Não repare no ambiente disse me,eu sou o dono,o garçom e o cozinheiro,é brasileira?-Sou ,respondi, e gostaria de jantar o prato que o Senhor escolher e tomar o vinho tinto seco que o Senhor indicar,pois já que é o dono e único aqui, deve saber o que há de melhor,respondi,risonha para aquele grandalhão, bonito e despretensioso homem.

-O prato tipico do Chile não posso lhe oferecer,a Sra. Deve saber é feito durante 24 horas em um buraco na terra,mas posso lhe oferecer algo que ,aposto,nunca comeu “Mariscos Locos”!

Não,não são como os que já deve ter saboreado são Locos, e para acompanhar um vinho chileno maravilhoso que eu mesmo vou escolher.De acordo?

-O Senhor que manda, mas olha sou psiquiatra e sei diferenciar o Loco do Normal,disse eu já dando gargalhadas.

Mas o pequeno e esburacado restaurante me reservava mais surpresas agradáveis,coisa que gosto muito.

Sentei só como de hábito em minha terra natal,quando um grupo de dois homens e uma mulher com idades semelhantes à minha,maduros,me olharam ,se entreolharam falaram:-Olha aceita a nossa companhia,já jantamos, mas não vamos te deixar aí a comer sozinha,é chato!E sentaram,se apresentando,ela professora de português e cursando literatura,uma linda e bem vestida mulher.Os dois homens altos,magro o professor universitário de literatura com livros reconhecidos e escritos, um belo homem ,e o último e terceiro um advogado muito atuante,mais baixo,encorpado,mas também um homem bonito..A simpatia ou empatia,se preferem foi mútua e imediata.Surpreenderam me com sua sensibilidade,para com uma mulher só e nem sabiam que eu não era chilena,pelo que me disseram depois.

A companhia não podia ser melhor ,conversamos de política,à arte,educação e literatura. Passamos por Chagall,Renoir e Van Gogh à EricoVeríssimo,Balzac,(um de meus escritores favoritos pela dissecção que faz da figura humana,vai da fivela do sapato até os lados mais obscuros do cérebro),Tolstói,Dostoievsky e tantos inúmeros outros!Contei lhes a história do Menino Maluquinho do Ziraldo que se abraço sozinho quando os pais se separaram,pois não tinha mais quem o abraçasse e gostaram,apreciando muito o humor.Não conheciam. Ficaram comigo na prosa até que eu terminasse a refeição ,e esta foi minha última surpresa daquela noite genial no Chile.

O restaurante velho,esburacado contrastando com uma baixela de prata pura,bem como de cristal as taças de vinho e água.Os mariscos locos são mesmo diferentes, mais parecem filés de lagosta e o vinho que dividi com meus companheiros era espetacularmente bem escolhido pelo chef.O que vale um bom Chef!!!

Depois da saborosa e maravilhosa refeição ,trocamos endereços ,nos abraçamos eu já saudosa,lamentando não ter amigos assim no Brasil, retorno ao Hotel e novamente liguei para minha mãe decidida a voltar no dia seguinte e,de manhãzinha me despedi de Santiago,dos conhecidos trazendo,pensava eu no avião uma lembrança linda de lá:amorosa,afetiva,culta,educada e,sobretudo,sensível. E viva a civilização a educação e a sensibilidade Chilenas!

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 09/09/2013
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