E AGORA?

E AGORA?

Fernando Alberto Couto

João, andando, sob um Sol escaldante, encontra seu amigo Pedro e vai logo se queixando.

- Poxa João, eu sempre tive fé, mas tenho pedido a Deus para terminar esse calor, chover um pouco, porém acho que não adianta nem rezar, pois não sou atendido. Você está aguentando? Já não acha que é até injusto o povo brasileiro sofrer, até apagões?

Pedro, sorrindo, respondeu:

- Ora, você disse tudo: “povo brasileiro”. João, você não é brasileiro, como eu?

- Sim, mas o que isso tem a ver com minha indignação?

- Ora, se você fosse um bom engenheiro, construísse um excelente prédio, com os melhores recursos, mas depois, quem comprasse, ou ganhasse esse prédio, fizesse importantes alterações em sua estrutura e voltasse a lhe procurar para assumir a proteção do mesmo prédio que correria riscos até de ser destruído, você largaria tudo para correr ajudar esse proprietário?

- É claro que não? Talvez até procurasse a Justiça, para livrar minha responsabilidade de eventual desgraça e para punir quem desrespeitou minha obra?

- Pois é João, Deus beneficiou o Brasil, com recursos naturais que outros países não tem, mas nós brasileiros, permitimos que as matas fossem queimadas, antigos habitantes (índios) fossem enganados e roubados, o curso de importantes rios foram alterados. Eu, como brasileiro, devido à fé que é uma de nossas características, ainda tenho a coragem (ou cara de pau) para rezar, mas não pedir chuva ou diminuição do calor. Rezo para pedir perdão, por ser tão egoísta. Por acompanhar manifestações, pela televisão, enquanto sei que, longe das grandes cidades, há lugares em que crianças morrem de fome e sede. Se nas grandes cidades o ensino, a saúde, o transporte e a segurança são um caos, nesses lugares, cuja existência até ignoramos, seres humanos são abandonados à própria sorte.

- Você tem razão, Pedro, vou rever todos meus pensamentos e, desde já, coberto de vergonha, vou pedir perdão. Não por ser brasileiro, mas por ser acomodado, como a maioria, a ponto de deixar um grupo de corruptos fazer o que bem entendesse, no comando do Brasil, esquecendo que o país é nosso e nós devemos exigir respeito, pelo menos à natureza.

- Entendeu, João?

- Sim, depois desses apagões, sei que o próprio Ministério responsável pela energia confessa que há dezenas de obras com mais de 18 meses de atraso. A Justiça e a segurança, nos envergonham diante do mundo. Enfim, o estrago está feito. Pois é Pedro, também vou pedir perdão, pela nossa omissão e espero merecer que, pelo menos, eu, minha família e meus amigos, sejamos poupados.

- Ótimo, amigo. Vou indo...Boa sorte!

- Tchau e boa sorte também!

RJ – 12/02/14

Fernando Alberto Couto
Enviado por Fernando Alberto Couto em 12/02/2014
Reeditado em 01/04/2014
Código do texto: T4688468
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