NÓS DE NÓS = EC
 
   Como todas as meninas de meu tempo, eu me dedicava aos trabalhos manuais, costura, bordado, tricô.

   Minha mãe me ensinava com muito carinho, mas era muito exigente também, queria tudo o mais perfeito possível.

   Assim, quando a linha embaraçava, ela não permitia que simplesmente eu cortasse e emendasse. Eu devia desembaraçar, pois o trabalho não ficaria tão bonito com as emendas.

   E ela fazia uma analogia interessante:

   Quando uma relação é estremecida por um desentendimento, mal entendido ou ofensa voluntaria ou não é como quando a linha embaraça, temos que achar a ponta e pacientemente desembaraçar, pois só assim tudo ficará perfeito como uma linha sem nó.
  
   Na ocasião eu não dava maior importância a essa colocação de Mamãe, mas a vida caprichosamente entregou-me um emaranhado de situações que eu sabia que devia desembaraçar, mas a tentação era pegar a tesoura e cortar tudo que estava me incomodando.


   Aos quarenta anos eu estava só no Mundo. Meu namoradinho de adolescente esteve em minha vida por mais de dez anos para depois, de repente, sem eu saber por que resolver casar-se com outra.

   Chorei muito. Por conta disso passei os melhores anos de minha vida amargurada sentindo na alma um nó que não conseguia nem queria desatar. Insensatamente alimentava um ódio absurdo pelo ex- namorado. Tentava usar uma tesoura imaginária e furar-lhe os olhos, mas as tesouras imaginárias só conseguem ferir a nós mesmos.

   O tempo e o natural amadurecimento amenizaram minha dor e eu passei a dedicar-me ao trabalho profissional onde alcancei algum sucesso.
 
   E foi então que conheci o Luk, um quarentão pra lá de simpático que se interessou por mim e depois de alguns meses de delicioso namoro me pediu em casamento.


   Acontece porém que ele é desquitado, fato do qual eu tinha conhecimento desde o começo e tem uma filha de treze anos tremendamente mal educada, coisa que eu ignorava.

  Quem começou a embaraçar a minha linha foi a ex-cunhada dele que me procurou para avisar, como era muito boazinha (?), a furada na qual eu ia entrar.

   Luk tinha sido um péssimo marido para sua irmã, traia-a descaradamente e quando ela resolveu pagar na mesma moeda, pediu o divorcio. Conseguiu a guarda da filha e agora não cuidava dela. A menina era rebelde, não estudava, andava solta por ai em péssimas companhias... etc...etc...

   Eu não acreditei muito. Afinal a informação vinha do lado de lá, mas fiquei meio grilada.

   Procurei me informar em outras fontes e só consegui piorar o emaranhado. Além daqueles, ele tinha muitos outros defeitos, era mentiroso, desonesto, bebia, jogava, já havia iludido várias mulheres as quais abandonara na pior amargura ...

   Mas ele é tão lindo! Tão carinhoso! É difícil acreditar, ou melhor, dizendo, eu não quero acreditar que ele não seja um semi-anjo.

   Lembrei-me de minha mãe e da linha embaraçada." Com paciência a gente sempre consegue desembaraçar..." e me pus a pensar:

   Será que vale a pena pegar um novelo tão emaranhado? Será que conseguirei desembaraçá-lo?


   O que vocês acham?
                                     

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Este texto faz parte do Exercício Criativo -
NÓS DE NÓS
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Presente de minha amiga Maria Mineira.
Muito obrigada, amiga!
Maith
Enviado por Maith em 10/03/2014
Reeditado em 10/03/2014
Código do texto: T4722792
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