Nós outros

Contra todas as probabilidades: bípedes pelados e frágeis, sem defesas outras que um bom miolo e dedos opositores, evoluímos e dominamos a Terra. Porém, mesmo com este cérebro privilegiado sobre a cabeça e estas úteis ferramentas nas pontas dos braços, às vezes embolamos em nós o fio de Ariadne e nos perdemos no labirinto.

Somos seres que desperdiçam aquilo que faz falta a outros. Somos gregários mas só reconhecemos o próprio umbigo. Somos todos diferentes uns dos outros mas achamos os muito diferentes de nós totalmente estranhos e não os reconhecemos. Somos buscadores ávidos de uma felicidade inalcançável pois jamais procuramos dentro, onde a encontraríamos. Somos prepotentes, seres que se julgam superiores, acima da natureza e donos de todos os outros seres. Somos também donos da verdade, ainda que de várias verdades distintas e adequadas a casa ocasião. Somos adoradores do mesmo deus que tem vários nomes – e rejeitamos nosso semelhante se o nome do seu deus for diferente do nosso, ou se ele o adorar de outra forma que não a nossa.

Somos escravos de prazeres fugazes, ainda que possuidores de livre arbítrio; somos dicotômicos, ainda que o bem e o mal, o certo e o errado, a verdade e a mentira brilhem de forma diversa através de cada olhar. Destruímos a própria casa, minamos a própria saúde e matamos o próprio irmão.

Temos a vida por um fio... e ainda assim continuamos a encurtá-lo, dando-lhe nós que fazemos questão de não desatar. Ou talvez, pobres diabos, ainda não tenhamos aprendido a arte.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo "Nós de Nós"

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http://encantodasletras.50webs.com/nosdenos.htm