O Determinante das Riquezas Futuras

Belém, 14 de abril de 2014.

Lastro é um termo que vem da engenharia e que se dirige a qualquer material usado para aumentar o peso ou manter a estabilidade de um objeto. Em embarcações o lastro podem ser pedras e mesmo a água para trazer equilíbrio no balanço de sua viagem. Na economia, o princípio é mesmo: manter a estabilidade econômica de um país para que as pessoas possam também desenvolver-se neste quesito.


O caso mais comum de lastro econômico é a relação entre moeda e ouro. Desta maneira, na medida em que uma determinada nação consegue mostrar em cédulas o quanto tem em ouro denomina-se bastante lastreada. É como se o cidadão dissesse que tem e não é só goela. “Ele se garante”.


Após a segunda guerra mundial, trocou-se a ideia de lastro-ouro por lastro-dólar a partir do momento em que os Estados Unidos dominaram o cenário mundial e venceram a queda de braço da guerra fria com a União Soviética. E impuseram a lógica do dólar como carta maior do baralho, sem a nobreza, raridade e realidade que o ouro fornecia enquanto prevaleceu na Idade Antiga, Medieval e Moderna. A ideologia americana forçou a barra em seu papel-moeda e conseguiu emplacar uma crença que a nota com George Washington era fator de riqueza.


E a casa caiu, como diria os policiais. Vez ou outra vem uma crise que abala o planeta para o martírio de economistas, banqueiros e especuladores que tem no dólar seu mensageiro de prosperidade. Nada real, tudo virtual, efeito real, neste paradoxo. Era menino, mas não entendia como poderia sair bilhões e bilhões do Brasil da noite pro dia de acordo com o humor especulativo de megainvestidores como George Soros, o maior deles. Tudo a contento de uma política do ministério da fazenda que só faltava distribuir flores a estes empobrecedores da América Latina e Ásia. Imperadores.


Na montagem de minhas impressões percebi que lastro tem a ver com equilíbrio e autonomia. Quanto mais lastro, mais autonomia. E no comparativo daquilo que move o mundo, percebi que energia é mola propulsora e pode ser lastro. Uau! Será que é por isso que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) causara um transtorno mundial no início da década de 1970 ao perceberem que sem eles e seu combustível o mundo não andaria?


E cá estamos na Amazônia lidando com sua moderna plataforma energética. Muitos quilômetros de linhões interligando hidrelétricas a passar por cima das cabeças dos municípios amazônicos. É verdade absoluta que não dá pra aproveitar esta energia sem o rebaixamento necessário. Mas também é verdade que este processo não tem a mesma velocidade que a vontade de levar energia para o sul do país. E mais verdade ainda que existe uma apatia estatal em trazer alternativas que possam trazer a luz elétrica para os interiores amazônicos, históricos que somos em ser celeiros de produtos extrativistas e não fabricantes de ciência e tecnologia. Não vejo a Constituição de 1988 ser respeitada pela federação quando da sua indicação por uma justa repartição das políticas entre as regiões brasileiras.


Só que um dia visitei uma casa movida a energia solar, lá no extremo norte do Estado. A residência pertence a um técnico muito perspicaz de nome Marcus Vinícius, morador da comunidade Morada Nova em Almeirim-Pa, do Sítio do Pica Pau Amarelo (um nome muito sugestivo pela força imaginativa que nos relembra a infância temperada a Monteiro Lobato), a qual contava com:

• 2 placas solares de 140 w a um valor total de R$1480,00;
• 1 placa solar de 80 w a um valor de R$600,00;
• Cabos, controladores de carga e outras peças que, segundo Vicente, somariam no máximo R$1.000,00;
• Inversor de 1000 w a um valor de R$800,00;
• 4 baterias automotivas de caminhão que juntas somavam R$2.400,00;
• Um custo total de R$6.280,00 nestes equipamentos.

Seu Marcus me disse usar baterias automotivas para armazenar a energia acumulada durante o dia. Se fossem adquiridas baterias profissionais para a energia solar, o custo total seria de R$8.680,00. Perguntei o que funcionava e ele relatou que sua “montagem” abrigava televisão e seu receptor; lâmpadas (todas da casa); ventilador, liquidificador, computador (notebook) e freezer. Acho que poderia concluir que com o recurso de R$10.000,00, é possível gerar autonomia em energia em uma casa através da luz solar. Bom, eu vi. Aparentemente Seu Marcus não precisa do Linhão e de suas contradições.


O raciocínio que fiz em relação ao lastro econômico me leva a crer que a energia será o determinante das riquezas futuras. Quem desenvolver mais alternativas será, pois, mais rico. Os programas que trouxerem propostas menos impactantes ao meio ambiente serão os mais viáveis. A mulher e o homem que possuírem mais lastro nesta categoria serão cidadãos mais livres. Sentirão mais o vento, irão valorizar mais o sol e assim estarão mais perto da natureza.


Uma essência humana recarregável.