Se vocês, queridos leitores, nunca pegaram um ônibus, talvez ignorem que existem os bancos contendo dois espaços. Sentam duas pessoas numa boa.
 
Evito sentar ao lado de homens.
Os homens fedem, suam demais, não utilizam Rexona nem qualquer outra marca de desodorante, são folgadões, eles provocam náuseas, despertam a forte vontade de vomitar quando encostam (sempre eles encostam) o ombro no meu ombro.
 
Quanto ao meu cheiro, elas sempre indagaram:
“Ah, Ilmar! Você é tão cheiroso. Que perfume usa, fofo?”
Eu logo respondia sorridente: “Skin Of Ilmar
 
Elas ficavam sem entender bulufas, eu esclarecia com muita modéstia:
_ A pele de Ilmar, linda! Após os seis dias da criação, Deus estava bastante satisfeito com tudo que fez, porém Ele decidiu soprar para me fazer. Concluindo a tarefa, exclamou Perfeito! e resolveu desfrutar o justo descanso.
 
Apesar do cheiro tão sedutor de fábrica, ultimamente estou arriscando testar alguns perfumes e tenho evitado, usando desodorante, que as axilas incomodem o nariz alheio.
 
Procuro sentar apenas nos bancos com mulheres.
Elas são cheirosas, gostosas, saborosas, doces, suaves e meigas.
 
Vale a pena, porém, não esquecer que “toda regra possui uma exceção”.
 
Ontem sentei ao lado de uma barraqueira.
O que é uma barraqueira, Ilmar? É uma mulher que gosta de armar o barraco, quer brigar, possui a língua solta, xinga fácil, grita, causa um tremendo alvoroço e não descarta ser violenta.
 
Quando sentei, havia uma sacola ocupando o meu espaço no chão, os pés da moça barraqueira também estavam nesse espaço.
Discreto, simulando não perceber, sentei e busquei definir qual seria a minha área. O meu pé direito forçou o pé esquerdo da barraqueira, ela tirou e começou a me encarar.
Eu fingi inocência.
A sacola permaneceu no chão. Era necessário ela arrastar para o lado dela, contudo a moça não fez.
Minha intuição indicou:
“Ilmar, essa é barraqueira!”
 
Se eu colocasse a sacola para o lado dela ou dissesse algo, receava protagonizar um escândalo. Temi ela começar a me ofender e criar o maior barraco.
 
Preferi não arriscar.
A minha perna não ficou à vontade, não pude esticar, movimentar, pois havia uma sacola tomando a pequena área, o meu espaço. Olhei uma ou duas vezes percebendo a expressão carrancuda da moça querendo confusão.
 
A viagem é curta, contudo permitiu executar uma excelente lição.
 
Atrás de mim, vi surgindo uma alegre garotinha e a mãe.
Calculei com precisão, ofereci o lugar. Imaginei que a garotinha inquieta e sapeca, no colo da amorosa mãe, incomodaria demais a barraqueira.
Eu pratiquei a bondade maliciosa e deixei a barraqueira se virar.
 
Além disso, preferindo ficar em pé, é possível, numa posição estratégica, contemplar os seios apetitosos das moças as quais só causam alvoroços nas camas.
Existia, um pouquinho à frente, uma donzela sedutora. Os seios da deusa virgem quase me levaram à loucura, cheguei até a esquecer a barraqueira.
 
A rápida viagem terminou muito bem.
A barraqueira espremida com a garotinha e a mãe, eu ganhei falsos pontos no Céu, não houve barraco e ainda pude conferir o paraíso.
(Ah! Que seios!)
 
Descendo do ônibus, no último ponto, acredito que vi a barraqueira me olhar revelando grande revolta.
 
Não consegui o telefone da gostosa. Não será possível conhecer os belos vales ainda inexplorados daquela inocente princesa.
 
Mas valeu!
Valeu demais!
**
 
A barraqueira queria confusão
Levou uma rasteira, curtiu a ilusão

O peito
Da gata colabora, me enlouqueceu
Que jeito?
A ingrata não deu bola quando desceu
Ilmar
Enviado por Ilmar em 29/08/2014
Reeditado em 29/08/2014
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