Jamais meu amigo !

Era novo na escola, aplicava a mesma disciplina que Eduardo, um antigo e respeitado professor que ficava em filial de outro bairro, no outro extremo da cidade. A atenção, paciência e profissionalismo do colega favoreceram nele, naturalmente tão arredio, uma simpatia e coleguismo sincero. Determinada dia, indicaram para ele o condutor de um veículo saindo do estacionamento, era Eduardo, elegante e gentil que retribuiu o aceno imediatamente. Em mais de uma ocasião citou o outro em rodas de conversas na empresa e fora dela:

- Ah, Eduardo é meu parceiro. Gosto de todos aqui, mas ele é diferente, me deu um super apoio logo que entrei. Comprometido, sempre se atualiza, e procura envolver os alunos. Nossa categoria seria diferente se todos os professores fossem como ele.

- Malandrão! Este sabe levar a vida! Pudera... Solteiro, “boa pinta” não deve faltar namorada...ou namoradas!

Final de ano, festa de confraternização, todas as diversas unidades se reuniam, colaboradores de todos os níveis, professores, coordenadores e diretoria. Oportunidade informal para todos se conhecerem pessoalmente. Eduardo chega, conversa um pouco em diversos grupos, até que finalmente se encontram. Em poucos minutos de conversa, algo o incomodou no outro. Deveria ser uma falsa impressão sua, pois certamente já teria notado! Imagina que Eduardo conseguiria enganá-lo por tanto tempo. Distanciou-se assim que possível. A festa transcorreu sem grandes novidades, todos felizes, o grupo escolar possuía muitos colaboradores de longa data, era realmente um evento de confraternização. Ele não conseguia tirar os olhos de Eduardo. Todos o tratavam com respeito. Nunca ouvira falar nada contra ele. Seria possível?

Na semana seguinte passou a ficar mais atento, e chegou a questionar sobre a vida pessoal do amigo. Sim, Eduardo era gay. Sentiu-se envergonhado, parecia culpado de algo que nem sabia identificar. Como pode? Que será que comentavam sobre ele que se dizia tão amigo do outro?

As conversas passaram a ser mais breves, o que antes achava profissionalismo e coleguismo passou a ser um claro sinal de sua feminilidade. Ausência em eventos sociais certamente seria para ocultar sua vida anormal. Via agora o respeito dos demais professores para com ele, nada mais era do que um distanciamento natural de sua conduta. A antipatia chegou a tão ponto, que foi questionado por sua supervisora sobre problema pessoal com o colega, o notavam ríspido ultimamente. Sentiu-se ofendido.

Como poderia ELE ter ”problemas pessoais” com um gay? ? ? ?

Quanto a Eduardo, nada mudou em sua vida, em seu jeito de ser, em sua rotina, ou forma de tratar a todos.

PRECONCEITO: Sempre se diz que trata-se de uma idéia gerada, normalmente de forma genérica, sobre alguém (alguéns), em decorrência de sua cor, nacionalidade, sexualidade, região onde vive ou por qualquer tipo de opção que faça – desde o time de futebol até a música que gosta. Que se dizer quando a pessoa muda a idéia que tem da outra após já conhecê-la, por conta justamente de suas opções ?

Triste época ! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.

(Albert Einsten)