AS TRÊS MARGENS

No bairro onde moro tem um rio, nos dias de chuva forte, o nível das

águas aumenta e a correnteza leva diversos objetos que estavam nas

margens: garrafas PET, brinquedos quebrados, sacolas plásticas, entre

outros.

Quando a chuva fica suave, gosto de observar as flores da linda e antiga

paineira, plantada bem próxima ao rio, flutuarem feito barcos de papel,

cor- de- rosa e frágeis, colorindo por um breve tempo suas águas

escuras. Ao concentra-me no rio, penso em liberdade, viagens...

Lembro-me de um conto de Guimarães Rosa “A Terceira Margem do Rio”, em que um homem de meia-idade deixa sua família e amigos para viver isolado em uma canoa no meio de um rio.

Na solidão das águas, ele busca encontrar-se, ou fugir de si mesmo? Seja qual for a resposta, o mistério permanece, o rio levou sonhos, vidas, e deixou saudades, inquietudes... Levou e leva ainda retratos, sons e emoções escritas no coração de cada pessoa, que o observa e deixa-se enfeitiçar por suas misteriosas, “três margens”: “Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.” Guimaraes Rosa

Vanice Zimerman Ferreira (BVIWtecendoletras)

PET: Politereftalato de etileno