Ordinárias Crônicas Adolescentes - Melissa cap VI

VI

Assim que cheguei em casa, tomei um banho e me arrumei rapidinho, logo o Henrique me chamaria e nós dois íamos esperar o encontro com o Matheus. A campainha tocou e minha mãe me avisou da chegada de Rique, ainda faltavam alguns toques na minha maquiagem então pedi a ela que o fizesse entrar. Ao entrar no meu quarto, ele deixou escapar uma exclamação de admiração mista com surpresa, isso significava que eu estava linda e radiante (causaria recalque em algumas meninas da escola), porém não disse nada a respeito, para mim já bastava.

- Tá pronta? Eles já estão chegando – Disse.

- Ainda não, faltam alguns toques na maquiagem, perfume...

- Anda, já tá bom, vamos...

- Ai, tá bom, deixa só eu passar meu perfume.

Despedimo-nos de meus pais e saímos da minha casa, andamos um pouco até à avenida principal do bairro, onde deveríamos encontrá-los, não tocamos no assunto que havíamos discutido mais cedo, sei muito bem como é ruim alguém ficar opinando sobre assuntos que nem você mesmo entende direito, nem mesmo sabe expressar exatamente como se sente sobre isso, então, deixei o silêncio dominar, exceto pelos ruídos de nossos passos e de carros que passavam na rua.

Ao chegar no local combinado, sentamos num ponto de ônibus que havia ali perto, porque, preguiçosos como somos, não íamos ficar em pé esperando-os aparecer. Não sabíamos se eles viriam de carro ou de ônibus, pelo jeito, não deveriam ir de carro porque marcaram em frente a um ponto de ônibus e não caberiam mais de cinco pessoas no carro também, quando abri a boca para dividir essa minha hipótese com o Rique, um ônibus parou no ponto e o Matheus desceu seguidas de duas meninas muito bonitas e bem arrumadas (ainda bem que me arrumara à altura, imagina que mico?) e mais dois garotos, um alto, bonito, mas que não chamava muita atenção, a não ser por sua altura; o outro era mais baixo que o primeiro, lindo, olhos castanhos claros, cílios pretinhos e enormes, boca carnuda, e um sorriso estonteante, só poderia ser o amigo do primo, pelo o que Matheus descrevera.

Tive que me recompor um pouco, quando Matheus veio me cumprimentar, ele já cumprimentara o Rique e depois passou a nos apresentar. Uma das meninas, a mais alta era Letícia, irmã de Fábio, o mais alto, primos do Matheus. Os outros dois eram Mariana e João Pedro, que além de lindo, era muito educado, sorridente e muito diferente de seu amigo, que era arrogante e metido. Depois das apresentações, fomos andando em direção à pizzaria que não era muito longe dali, eu e as meninas conversávamos um pouco durante o caminho sobre bobagens femininas, como maquiagem, mas nem prestei muito atenção no que diziam, pois eu entreouvira um comentário sobre mim entre Fábio e João Pedro, chamando-me de gostosa e se perguntando se eu tinha namorado. Confesso, fiquei lisonjeada ao ouvi-los e, provavelmente, adquiri uma feição triunfante no rosto.

A pizzaria que fomos se chama “La regina della pizza”, um lugar bem aconchegante com garçons e garçonetes muito educados, encontrava-se razoavelmente cheia àquela hora, sentamo-nos numa mesa retangular de seis lugares, encostada numa parede com vários quadros da Itália. Matheus puxou uma cadeira da mesa de um casal e a pôs na parte do corredor, Mariana se sentou encostada na parede, seguida por Letícia e por mim, Henrique se sentara defronte a mim, ao lado de João Pedro seguido por Fábio, encostado à parede. Pedimos uma pizza de tamanho gigante, metade calabresa e metade portuguesa, ficamos conversando e rindo de piadas que os meninos contavam, principalmente Fábio, até que ele era engraçado quando queria, mas o que não deixei de perceber era que João Pedro não parava de me encarar. Sim, isso me deixou demasiado sem graça, porém, animada.

Nós nos divertimos bastante até, e, aparentemente, os primos do Matheus nem eram tão chatos quanto ele descrevera, talvez seja por causa dessas brigas entre primos quando são crianças, vai saber. Nós comemos toda a pizza, em meio a risos, piadas, casos do passado, inclusive daquela vez que o Henrique rachou a cabeça e fomos parar em outra cidade. Eu não era a única a ser observada e trocar risinhos com alguém da mesa, o Rique não parava de encarar a Letícia, pelo jeito, ele estava mesmo pondo em prática seu plano de ficar com ela, apesar de estar apaixonado por outra menina.

- Vamos pedir uma pizza doce? – Sugeriram ao mesmo tempo Henrique e Letícia.

- Eita, vem daí – Letícia falou aos risos. Henrique não conseguiu conter seu sorriso safado.

- Acho que você dois estão bem conectados – eu falei e dei uma piscadinha para o Matheus que abafou um riso.

- Defina conectados! – Pediu Letícia que pegou seu suco e bebeu um pouco com o canudo, levantando rapidamente as sobrancelhas.

- Bem, tipo, parece que vocês podem ser mais que amigos – Falei e fiz o mesmo que ela.

- Quem sabe – Ela me respondeu e encarou Henrique diretamente nos olhos, que retribuiu até deixar a menina sem graça. Ele sabe muito bem ser sedutor quando quer, mas não quando precisa, se é que me entende.

- Acho que o papo tá ficando meio pesado, qual vai ser o sabor da pizza doce mesmo? – Interveio Fábio, percebendo toda a situação e fingindo ser um irmão protetor, o que não adiantou muito, porque novamente os dois responderam em uníssono antes de todo mundo.

- Brigadeiro! – exclamaram os dois e depois riram.

- Então, é melhor pedir pra fazer logo, não é mesmo? Garçom! – Interveio Matheus, antes mesmo que alguém pudesse tirar a alegria dos dois.

O flerte entre os dois continuou, Letícia e Mariana não paravam de trocar segredinhos uma no ouvido da outra e rindo, pareciam até mais novas do que realmente eram. Meio cansada das duas, eu engatei numa conversa dos meninos sobre livros e seriados de que gostávamos, enquanto eu falava sobre uma série nova que estava tentando acompanhar, meu celular vibrou anunciando a chegada de uma mensagem. Era um número desconhecido, fiquei intrigada, mas acabei de falar o que queria antes de olhar. Era do João Pedro.

Primeiro: como ele conseguiu o meu número se ele não pediu para ninguém ali? Segundo: por que ele tinha que me mandar uma mensagem, justo naquela hora? E terceiro: ele é um fofo. Bem, quase todos são quando querem ficar com alguém, mas devo admitir que ele foi realmente fofo. A mensagem dizia o seguinte: “Você fica muito mais linda quando fala de algo que gosta. J. Pedro”. Preciso dizer que além de fofo ele escreveu tudo certinho e sem abreviações? É ou não é para se encantar com um menino desses, ainda mais com esse sorriso.

Fiquei abobada por uns instantes, mas acho que quase ninguém percebeu porque a pizza chegou logo depois. Comemos, pagamos e fomos embora da pizzaria. Henrique foi andando na frente com a Letícia e o resto de nós ficou para trás. Fábio olhava para os dois com uma cara severa, Mariana ficava olhando de soslaio para Matheus e João Pedro fingia que não tinha feito nada, o que me irritou um pouco. O clima de romance dos dois à nossa frente começou a esquentar e então lembrei da situação do Matheus e resolvi perguntar-lhe sobre o Breno.

- Ah, Matheus, você falou com o Breno?

- Não, ainda não, ele não falou nada comigo nem eu com ele... Não sei se fiz a coisa certa...

- Você se arrependeu de não ter aceitado o pedido dele?

- Não sei, mas tava pensando ali agora e namorar até que seria legal... Mas eu não sei de mais nada...

- Pera aí – Interrompeu-nos Mari incrédula – Você é gay, Matheus?

- Sou, ninguém te contou não? – Disse ele.

- Não... – Ela respondeu de queixo caído mostrando-se ligeiramente desapontada.

- Eu também não, mas isso é legal – Disse João Pedro e piscou para ele.

Achei aquilo um pouco estranho, Fábio não se manifestou sobre o assunto, aparentemente não estava gostando de a sua irmã estar sendo agarrada pelo Rique metros a frente de nós.

Gustavo Ribeiro
Enviado por Gustavo Ribeiro em 26/02/2015
Código do texto: T5151456
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