JOSELITO E O NINHO DE PASCOA

A religiosidade do menino de sete anos não explicava porque aquela semana se chamava santa, nem porque a segunda e a terca feira não tinham essa santificação. Mas o menino achava aquela uma semana estranha, silenciosa e triste, pois até o céu parecia mostrar-se cinzento e muitas vezes também o sol custava a surgir. As pessoas ficavam pelas casas, muitas em oração ou entoando cânticos religiosos e as visitas à igreja e santuários eram constantes.

Na sexta feira, Joselito ia com a mãe à capelinha do vilarejo. Sempre havia alguns fiéis sussurrando baixinho as suas orações. O menino achava um pouco assustador as imagens dos santos estarem cobertas por toalhas roxas. Temeroso, nunca perguntou à mãe o motivo desse encobrimento.

Na volta, pelos brejos a beira da estradinha, colhiam macela. A mãe dizia ser esse o dia ideal para colher o chá que, ela acreditava, resolveria o mal estar de toda a família. Joselito observava que na sexta feira santa as pessoas tinham no rosto uma expressão triste, e não trabalhavam, considerando o dia de muito respeito. Conta-se até o fato de que um vizinho, tendo ido arar a lavoura nesse dia, teve o pé cortado pelo arado.

Nessa época, o que alegrava Joselito era chegar à cozinha, onde a mãe dedicava-se à pintura de cascas de ovos de galinha, eram muitos, com as mais diversas cores e desenhos. As cascas eram recheadas muitas vezes com amendoim, balas e confetes e fechadas com papel colorido. Esses ovos, junto com balas e alguns doces com formato de coelhinhos e pequenas galinhas com seus pintinhos com um minúsculo biquinho amarelo, tudo feito em glacê e açúcar cristal, despertavam o carinho de Joselito e completavam o ninho, que no domingo de páscoa seria procurado pelo menino, que seguindo as pisadas de farinha, colocadas pela mãe na véspera, imitariam os passos e revelariam a visita do coelhinho da pascoa.

No domingo à tarde as crianças encontravam-se com os amigos, exibiam seus ninhos e distraiam-se tirando todo o seu conteúdo, de onde surgiam ovos, coelhos e doces. Joselito entristecia-se ao comparar seu ninho, de casca de ovos caseiros, com o ninho de seu primo Pedro Paulo, onde havia muitos ovos de chocolate, enormes, embrulhados em lindo papel de seda . Ao queixar-se para a mãe, ouvia dela sempre a mesma explicação: "meu filho, mesmo que os ovos de teu ninho sejam do mesmo tamanho dos de Pedro Paulo, pelos ninhos da vida sempre encontrarás ovos maiores".

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 28/03/2015
Reeditado em 01/04/2015
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