Conhecendo Ana
Acordo de manhã, mais um dia desprezível considerando a minha existência. Olho no espelho, somente decepções. Tantas tentativas, tantos métodos, tanto tempo... Continuo temendo o quão nojenta é a imagem reproduzida num fragmento de vidro.
Encontro-me, então, com Ana, minha única amiga, minha ídola. Sua figura permanece ambígua. Sua personalidade, desconhecida. Ela diz o que eu quero ouvir, ela me dá esperanças.
Ana pode ser rígida às vezes, mas é a única parte boa de mim. Ela sempre esteve lá quando precisei, sempre me entendeu, sempre me consolou em todos os momentos críticos.
-Você não se acha patética?
Diz Ana.
-Sim, Ana.
-Vamos trabalhar nisso. Aguente firme.
-Claro.
Talvez seja pura futilidade minha, mas a desejo com o âmago de meu ser. Ana me faz pura, me faz livre. Os outros não entendem... Jamais entenderão.
Uma figura é embutida em minha mente como um ideal de perfeição, como uma meta. Enquanto não atingi-la, será preciso me educar. A educação é necessária para que meu objetivo seja atingido, por mais repulsiva que pareça, por mais cruel que seja.
O fluido é jorrado com alívio. Ali, todos os meus anseios. Toda a perda de controle, destruída. Toda a culpa, eliminada. Mais uma vez, estou livre.
Assim como uma boa aluna, ainda é necessário fazer mais. É preciso fazer com que meu corpo aprenda a ser dominado, fazer com que seja disciplinado. Só assim, Ana sorrirá.
O sangue escorre. Meus olhos são agradados por um relance avermelhado de aprendizado, de punição. Sinto-me pura novamente, estou livre. "Boa garota", diz Ana.
Os demônios em minha cabeça ordenam para que eu corresponda aos desejos corporais. O prazer passageiro, neste momento, é letal. Não há o que possa ser feito, se não evitar ao máximo dar ouvidos às pestes que moram em meu cérebro.
Pílulas ajudam-me a eliminar todos os males consumidos por desleixo e impulsividade. Estou junto à Mia, irmã de Ana.
Ana me olha com desprezo e decepção, mas Mia é compreensiva, é meu refúgio. Esta me alivia dos pesares inúteis que os demônios internos obrigam a consumir. O pecado assombroso, a necessidade física.
Todos os dias são recobertos com anseios. Prezo aquele que se vê e sente que não há nada a ser mudado, mas não posso abandoná-las... Ainda não.
Invejada, desejada, querida, amada. Minha admiração, Ana. Minha inspiração, Ana. Meu amor, Ana. Até a morte, eu te amo.