A MORTE ANUNCIADA (EC)

Últimas notícias sobre o assassinato do Sr. Presidente da República, Dr. Delmo Lenos Mata, atingido por um tiro, à queima-roupa, durante seu discurso de posse.

O evento já se iniciara com um pequeno desentendimento.

O ex-presidente resistia em passar-lhe a faixa.

Sr. Delmo, em sua ansiedade de mudança, fez menção de arrancá-la.

Houve um empurra-empurra com militantes e assessores de ambas as partes digladiando-se.

Gritavam palavras de ordem.

As publicáveis: “A faixa é nossa!”, “Larga!”,

Seria pândega a confusão se, acalmados os ânimos, não se desse por conta o desaparecimento da faixa.

Não se sabe ao certo se furtada ou escafedeu-se por conta da vergonha a que estava sendo exposta.

Procura daqui, procura dali, revista aqui, revista ali e nada.

Dr.Delmo, macambúzio, declarou:

“Deixem a faixa para lá. O que importa para governar é a caneta”.

Assessores rapidamente ofereceram as suas, mas o presidente eleito, sorridente acenou para o público mostrando a própria caneta.

Assinado o livro de posse, passou ao protocolar discurso no púlpito.

Disse poucas palavras, até o desenlace da tragédia.

Segue a íntegra do primeiro e único discurso:

“Amantíssimos eleitores e opositores... (Aplausos do público)... Governarei para todos... (Mais aplausos, entre palavras de ordem, idolatrando o presidente)... Cumprirei integralmente todas as promessas de campanha... (um ar de dúvidas surge no céu)... pois, palavra de rei não volta atrás... (ouviram-se gritos: O país é república)... digo, palavras de homem honrado... (muitos disfarçadamente procuraram ao redor)... cortarei despesas ...(olhares desconfiados)... menos assessores, garçons, motoristas pagos a peso de ouro...(olhares de ódio brotaram nos rostos)... reajustarei as aposentadorias...(risinhos na multidão)... reduzirei impostos...(gargalhar na claque)... extinguirei ministérios...(gritos explodiram: “O meu não”)... parentes de membros dos três poderes terão de usufruir dos serviços públicos, como escolas e hospitais...(descontrole geral entre as autoridades)... e mais farei...

Um disparo... O presidente cai... Corre-corre... O SAMU é chamado... Chegou em duas horas... Constata-se o óbito... Procura-se o atirador... Apresenta-se um homem de terno preto... Fui eu... Você?... Terrorista internacional asilado?... Ah! O segurança do presidente...

Passado o instante de surpresa, o homem é carregado, com honras de herói, nos braços das autoridades presentes.

Jazendo no chão, o corpo solitário...

Ao longe, mas bem de longe, esvaiam-se olhares de esperança de que algo mudasse.

-------------------------------------------------------------------------------

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Presidente por um Dia

Saiba mais, conheça os outros textos:

http://encantodasletras.50webs.com/presidenteporumdia.htm

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 06/04/2015
Reeditado em 06/04/2015
Código do texto: T5196766
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.