Viagem

Eis que sua hora havia chegado. Juntou na mochila o pouco que lhe sobrara e completou os espaços com a experiência que a vida havia lhe dado. No ponto do ônibus, sentou-se. Os olhos voltavam para o céu e ele contemplou o azul mais sublime que até então tinha visto.
Não se ouvia nada ao redor. O silêncio era um hóspede estranho... ao mesmo tempo lhe motivava o pensar, mas por outro lado lhe trazia preocupações.
O que esperar dessa última viagem? Tantas expectativas foram vividas durante esses anos todos e agora era chegado o momento. Respirou fundo e voltou-se para dentro da própria alma.
Ela estava carregada de várias emoções díspares. O que pulsava como um coração em alarde em fuga era o desejo de ter acertado o máximo possível, afinal, se vive para acertar, quase sempre.
Mesmo na ansiedade interior, ele sentiu uma brisa suave e percebeu então que era preciso relaxar; respirar fundo e aproveitar, pois o encontro tão esperado estava próximo.
Eis que o ônibus fez a curva e ele se pôs de pé. Não havia indicação da direção, mas ele sabia que era o seu. O ar tornou-se rarefeito. Novamente um filme passou em sua mente: "será que estou realmente pronto para esse encontro?". Essa e outras dúvidas pareciam viajar no tempo que não existia mais. O ônibus parou. Ele olhou para dentro e todos os passageiros lhe pareciam familiares. A porta então se abriu.
Ele fitou os olhos no condutor e seu sorriso, antes encharcado de dúvidas agora era crédulo. Tudo o que haviam dito antes era verdade. Aquela viagem seria inesquecível.
Adentrou o veículo que parecia flutuar. Suas primeiras palavras com o condutor abriram logo um profundo diálogo:
__ "Então é verdade?"
O condutor respondeu: __ "Você ainda tinha dúvidas?"
__ "As vezes".
__ "Então você perdeu noites de sono de modo desnecessário".
__ "Agora faz sentido".
__ "Tudo faz sentido meu caro". "Vocês é que distorcem o sentido mais belo desta viagem".
Disse o jovem: __ "Tinha medo das minhas incoerências!".
__ "Só suas?" "Todos passam por isso".
Então a pergunta que lhe tirava o ar quando aguardava o ônibus não pode mais ser silenciada:
__ "Para onde vamos?"
__ "Para casa". Respondeu o condutor. "Vim buscá-lo pessoalmente para que não sinta o peso da morte, mas saiba que é somente empreendendo essa última viagem que você terá parte no meu Reino".
E assim ele se foi. Não deixou nenhum bilhete de despedida. Nem sabíamos que ele faria tal viagem. Quando ficamos sabendo, o veículo que conduz para a eternidade havia passado e lá dentro estava ele, tão jovem, mas agora, sem nenhuma dúvida.
Foi bem assim que o itinerário daquele ônibus foi inaugurado. Hoje ele se chama: No-eterno e quando faz a curva da vida é para levar alguém que ainda tem dúvida da salvação. 
Sem medo! Todos nós iremos subir seus degraus.
 
Fábio G Costa
Enviado por Fábio G Costa em 23/04/2015
Código do texto: T5218025
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