Pesadelo.

Um sonho, um lindo sonho de verão. Aquela paisagem era um verdadeiro cartão postal. Era assim: um conjunto de bangalôs enfileirados numa praia, de uma areia tão branquinha que mais parecia algodão cirúrgico, que ficava no litoral sul de Upolu, na região da Samoa, no Pacífico.

Bem por atrás dos bangalôs, aproximadamente a um quilômetro de distancia, podia ver-se mesmo à distância, despencava uma cachoeira de um penhasco enorme, que criava um grande véu de noiva, aclimatando ainda mais o ambiente local muito bem cercado de verde, de coqueiros, samambaias e de milhares de um tipo de orquídeas selvagem, fazendo realçar aos olhos dos visitantes um paraíso, uma pequena parte de Shangri-lá, um verdadeiro pedacinho do céu bíblico.

Estava em férias e havia escolhido aquela paradisíaca região do Pacifico Sul para curtir trinta dias de muita azaração ao lado de minha recém-conquistada partner somoana, uma linda morena de olhos negros e puxadinhos e longos cabelos pretos quase que até a cintura, que conferia um charme maior àquele corpo monumental em forma de um violão. Seios fartos e arredondados, acompanhados por uma boca carnuda e de lábios sempre bem pintados de um batom escarlate, um convite irrecusável para um aconchego a qualquer hora do dia ou da noite.

Eu tinha conhecimento que aquela região do Pacífico Sul era muito propícia a terremotos. É naquela região que fica a famosa fossa de Tonga, um profundo desfiladeiro no leito do Pacífico e as atividades sísmicas acontecem com freqüência só que na parte profunda e distante do litoral e, muito pouco sentidas por seus habitantes em terra.

Eram aproximadamente umas nove horas de manhã de um céu azul, sem nenhuma nuvem, de sol forte e convidativo ao ócio. Da varanda de meu bangalô – a moradia samoana é um bangalô redondo chamado de fale Em laje de concreto, tem paredes pela metade feitas de bambu com telhado de palha, a maioria, ou metal - observava e contemplava a imensidão do mar, de um azul turquesa do calmo Pacífico Sul a perder de vista no infinito. Acompanhado de uma brisa matinal, que me encharcava até a alma e arejava meus pensamentos. Olhando para dentro do meu bangalô, deitada de bruços na cama toda desarrumada - prova incontestável de uma noite de amor - despida, apenas a parte superior do tronco coberto, por uma fatia do lençol, minha partner dormia tranqüila, se refazendo do desgaste da agitada noite passada.

Uma vez mais invisto meus olhos para aquele corpo moreno e viçoso. O sol, que refletia quarto à dentro, ainda fazia rescindir o cheiro forte e gostoso, de sabor acre, misturado ao suor de nossos corpos, o amor que pairava no ar. Contemplei-a alguns segundos a mais com infinito prazer e, quando retorno às vistas para o infinito azul do mar, uma surpresa.

O que vejo: o mar em fuga, afastando-se em direção ao horizonte, levando com ele os barcos, veleiros, Jet skys e toda aquela gente, que se banhavam já àquela hora, deixando uma extensa faixa do mar com diversas poças, algas e musgos de diversas cores - os incríveis refugos do mar, conchas, fragmentos de esqueletos de grandes peixes e mergulhar num precipício. Aquilo tudo me parecia um cemitério, com os peixes pulando parecendo pipocas na panela. Alguns segundos depois ele volta trazendo tudo o que havia levado, provocando um rugido ensurdecedor por uma onda de mais cinco metros de altura vindo em minha direção, em direção a terra firme. Meu espanto me deixou paralisado. Não tive ação para nada. Nem para correr. E sou lançado pra dentro de casa com uma fúria tão grande que, batendo com meu corpo contra as paredes do bangalô, acordo desse pesadelo e, de repente, ainda com a respiração ofegante, sinto um a alegria enorme de tudo aquilo ser realmente um pesadelo e eu estar deitado em minha cama tendo ao lado minha amada, que nem em sonhos imaginaria o que se passara.

Sentado à beira da cama, com o rosto entre as mãos, me vem a lembrança das imagens que tinha visto em um vídeo das maiores catástrofes dos últimos tempos, que assistira antes de deitar.

Pensativo, com o coração ainda em ritmo acelerado, deito na cama buscando o sono, outra vez, na tentativa de sonhos melhores.

Dmir Pessoa
Enviado por Dmir Pessoa em 06/05/2015
Código do texto: T5232840
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