O ACASO NO CHAMA PRA VIDA E NÃO ATENDEMOS

Na semana passada assisti a um filme na TV Cultura, onde o protagonista, um executivo, um certo dia, se questionou sobre a automação da vida que levava e a pouca importância que dava às pessoas e situações, muitas vezes, até excepcionais. Isso ocorreu depois que teve um encontro inusitado com uma pessoa que não conhecia e totalmente diferente das do seu meio, um sujeito negro, de meia idade, que o tirou de uma situação de apuro.

Isso o fez lembrar de outro episódio, tempos atrás, quando ia distraído e, ao pisar no asfalto no cruzamento de uma via movimentada, foi puxado com força para trás por uma mulher, que assim lhe salvou a vida, já que um ônibus passou a um palmo dele a toda velocidade.

Ele apenas agradeceu e a mulher lhe disse: obrigado. E cada um seguiu seu caminho. Agora, questionava a si mesmo sobre o porquê de não ter ido atrás dela, conversado e lhe perguntado quem era e o que fazia, afinal não seria um “anjo”, uma pessoa que o destino reservava algo especial, ainda mais que ela estava com um boné do seu time preferido?

Desta vez ele fez diferente: foi atrás do rapaz negro em sua casa e iniciou, até forçadamente, uma amizade com ele, que estranhou aquela aproximação. Mas desta vez não deixou aquele fato passar em branco, tomou uma atitude e ganhou um amigo etc.

Pensando nisso, passei a refletir que, como o personagem, eu e muita gente, em nosso cotidiano, perdemos muito tempo com mil bobeiras, ou até com coisas sérias, às vezes com internet, na frente da TV, ou mesmo lendo um livro, quando a vida vai rolando doidamente, sem que a gente interfira, participe do desfile de vida real à frente.

Isso ocorre porque preferimos o conforto do nosso ego, nosso mundo. Lembrei que eu, quando jovem e trabalhando na Rua Aurora, no Centro de São Paulo, pelo menos uma vez por semana, quando voltava do almoço, via o compositor Adoniran Barbosa, sentando em um banquinho do bar, anexo ao prédio onde eu trabalhava, tomando algo, com as pernas cruzadas e olhando para a rua, possivelmente escrevendo algo em um papel, ou bolando um samba, possivelmente disponível para um bom papo.

Fiquei com vontade, mas nunca entrei ali e puxei conversa com ele, por pressa ou timidez. E poderia ter sido uma experiência inesquecível, principalmente pra mim que o considero um gênio - isso se eu observasse e botasse fé nos tais sinais e acasos.