SÁBADO À TARDE
 
 
Após uma refeição frugal pois o apetite tinha ficado afastado de mim, peguei no carro e dirigi-me até à linha do Estoril. Fiz aqueles quilómetros paulatinamente, numa fila interminável. Apesar de ainda estarmos a meio de Maio, o tempo quente apelava à praia e todas as que passei estavam repletas de pessoas ansiosas por gozar dos raios solares e da água do mar límpida mas gelada…
Acabei por parar apenas na Praia dos Pescadores, em Cascais, e foi precisa alguma “ginástica” para conseguir estacionar, tal a confusão de veículos, parados de qualquer modo, a maioria em infração ao Código da Estrada. Desci até ao paredão e fui caminhando em direção a uma esplanada, mesmo em cima da praia. Cruzei-me com veraneantes e desportistas de todas as idades fazendo jogging.
A vista era soberba e chamando um empregado, que sorridente, logo acorreu todo cheio de atenções, pedi um café e uma água mineral. Sempre fui mais observador que conversador e nesta tarde não estava mesmo virado para a conversa. Limitei-me a sorver pequenos goles do líquido quente e escuro, depois pousei a chávena, sempre olhando para a imensidão do mar.
Muita gente no areal, as toalhas estendidas quase em cima umas das outras, era impossível caminhar sem incomodar algum banhista que tal como lagarto, estivesse estirado a tostar ao sol. Na água, gente de todas as idades evoluía, uns mergulhando, outros dando braçadas ao melhor estilo olímpico, madames e mais novinhas competiam para evidenciar os dotes físicos, tentando caber na menor porção de tecido possível. Por momentos, diverti-me com essas observações.
Então, uma estranha impressão submergiu-me…
À medida que ia olhando mais longe, para o infinito, um misto de saudade e tristeza fez-se presente.
Fixando um pedaço de areal mais visível, constatei que a água desenhava o teu rosto na areia molhada, sendo constantemente apagado pelas ondas que suavemente ali vinham rebentar…
A brisa, branda e morna, recordava-me os teus dedos afagando com ternura o meu cabelo…
Lembrei a tua boca cálida, os teus abraços sempre meigos e acolhedores…
Fechei os olhos e assim me deixei ficar, numa letargia incomum…
O tempo passou até que me dei conta que o sol já se encaminhava para o ocaso e a temperatura baixava lentamente.
A praia foi-se esvaziando aos poucos e agora o espaço livre de gente na areia era muito maior.
Paguei a conta e dirigi-me lentamente ao local onde tinha deixado o carro. Lá, esperava-me uma surpresa desagradável. O meu, tal como outros veículos, tinham presos nas escovas do para-brisas um talão de multa por estacionamento indevido.
Encolhi os ombros, guardei o recibo e tomei o rumo de regresso a Lisboa, via autoestrada.
Não estava com paciência para suportar mais filas de trânsito.
 
 

 
Foto: Praia dos Pescadores em Cascais (fonte Google)




 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 18/05/2015
Código do texto: T5246187
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