RELAÇÕES ENCANTADAS

Faz falta na trajetória de um ser humano aquela pessoa do gênero oposto e da mesma faixa etária, com a qual não se tenha quase ou nenhuma cerimônia. Pessoa cuja convivência conosco seja tão estreita que não encaixe mais ninguém, pela exclusividade. Pela história de muitos anos. O carinho inexplicável e a confiança irrestrita em ambos os lados... suficiente para que não haja distorções, melindres e o velho alto lá, que só ocorre quando quem se desarma o faz sozinho. Aí não vale a pena. Terá sido engano. É melhor desmoronar, para estabelecer a amizade comum com todos os filtros, escudos e armaduras que já conhecemos.

Essa relação tão necessária para todos nós é algo mesmo secreto, embora não exatamente oculto. São ocultas as nuances, as particularidades e a natureza única; os momentos bem íntimos, ainda que olháveis em derredor, por olhos que não podem alcançar o que vai além da imagem. Os alguéns desse tipo de relacionamento são restritos; raros; específicos. Não são colegas, amigos do dia a dia, e ninguém jamais queira ter esse nível de cumplicidade com o par romântico ou o cônjuge. Namorados ou cônjuges estão bem longe de ser as pessoas adequadas para nos conhecerem tão sem véus. Isso abala o romance.

Ter essa pessoa confidente, alguém tão íntimo com quem não faz sexo, não divide as responsabilidades ou preocupações nem discute relação é algo mágico. Isso não cabe numa convivência com ranços de ciúme, cisma de traição nem no histórico de sofrimentos de uma vida em comum. Só cabe onde se dividem afeto, fantasia, momentos rasos ou profundos, porém sempre de prazer. Nunca o envolvimento que deságua no lugar comum dos laços de carne, futuramente formais, ainda que só na intenção de um dos lados.

Mora nisto, especificamente, a natureza rara desse relacionamento. Ele só se deixa encantar. Não quer o desencanto, a decepção, o rompimento nem a chance de pensar no fim. Torna-se profundo, mas não pesado. Não é tirano, vigilante ou cobrador. Sua exclusividade vem da própria natureza do ser humano que não tem espalhadas pelo mundo algumas dúzias de almas gêmeas; tão gêmeas quanto não são as que assim nomeamos comumente.

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Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 28/05/2015
Reeditado em 28/05/2015
Código do texto: T5257813
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