Inflexíveis autossabotadores

Quem nunca ouviu um comentário como "Isso só acontece no Brasil!" ou "No Brasil é sempre essa bagunça!", diante de um acontecimento ruim a nível nacional ou local? Mas isso não é apenas uma característica brasileira - e, se eu viesse a afirmar o contrário, estaria depreciando incoerentemente a sociedade brasileira, que já faz isso num normal.

A situação é simples e já conhecida: todo ser humano tende a menosprezar aquilo que é seu, valorizando o que é alheio. No Brasil, os brasileiros têm uma boa imagem dos EUA, por exemplo; nos EUA, eles devem ter uma boa imagem dos concorrentes países europeus - sim! Mesmo sendo intensamente patriotas e habitantes de um país desenvolvido. O caso é que os indivíduos nascem com a tendência para a ignorância e a inflexibilidade e pensam que em outros lugares não há problemas como os sofridos por eles, o que deve ser quebrado a partir da reflexão racional sobre os diversos acontecimentos que os cercam.

Mas por que é fácil criar um estereótipo bonito dos EUA - por exemplo - e não de seu país de origem? A resposta está em basicamente tudo acerca de nós: filmes, roupas, produtos eletrônicos, brinquedos, livros, personagens, restaurantes e outros muitos produtos e estabelecimentos. Os estadunidenses fazem uma publicidade perfeita em tudo que exportam para o mundo achar que vivem em um paraíso onde tudo é perfeito, mas não vivem! Lá existe violência, corrupção, futilidade, tráfico de drogas e até gente que fala errado. Mas no Brasil que tudo é terrível!

Tomo o Brasil por base, mas isso ocorre nos mais diversos países, pois obviamente não há lugar perfeito, há lugares com características mutáveis que devem estar em constante adaptação às circunstâncias sociais e territoriais. Porém, o Brasil e alguns outros países em desenvolvimento possuem uma especial síndrome de auto-desonra intensamente viva na mente de parte da população. Basta analisar, por exemplo, a publicidade brasileira que é exportada para os outros países: ela é capaz de criar um falso estereótipo até para os brasileiros mais nacionalistas. Isso demonstra o motivo de a fama do país não ser um padrão em vários quesitos prezados internacionalmente - como educação e segurança, por exemplo.

Na maioria das vezes, os filmes exportados demonstram desamor à pátria, as músicas que viram febre são fúteis, as festas culturais apresentam um furdúncio desmedido; e o que mais vemos em reportagens é que os estrangeiros acham que o Brasil vive apenas em festa. Mas não critico o fato de a propaganda mostrar, em sua maioria, uma realidade que não é geral do país, pois - repito - não é apenas local. Critico o fato de, se a produção publicitária nacional aderir a um padrão de elevação da imagem patriota, a própria mídia local criticará veementemente tal situação, demonstrando que não somos nem nunca seremos aquilo que está sendo demonstrado, pois somos "atrasados", "ignorantes" e "adeptos à vagabundagem". Por isso, a publicidade do Brasil e de outros países que ainda objetivam alcançar o desenvolvimento é tão pejorativa à imagem da nação: pois, na maioria das vezes, a própria mídia nacional não apoia tal imagem patriota.

Conclui-se, através da reflexão proposta, que quase todos os estereótipos são equivocados e que não há uma terra encantada onde tudo é perfeito e todos os habitantes são satisfeitos com os acontecimentos. Mas deveria haver uma Nação onde a maioria dos habitantes possui orgulho de pertencer a tal local e acredita que, mesmo com todos os problemas, o desenvolvimento é alcançável com o trabalho conjunto e não com a autossabotagem expressa em murmúrios inertes de indivíduos que possuem um tapa-olho - como aquele posto em cavalos - para que se veja tão somente o que se passa em sua frente, sem ter a mente aberta para reflexões acerca de outras realidades.

Ronaldo Junior
Enviado por Ronaldo Junior em 14/07/2015
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