EM FÉRIAS COM PAPAI (É como se eu restaurasse meu sistema operacional, funciono melhor!)

Visito anualmente minha terra natal e meus ancestrais para me compreender melhor. Araguaína-To, o berço dos meus primeiros vinte anos, mais meia década em Belém de Maria - Pe, somam os anos mais importantes de minha vida. "A vida só se compreende mediante um retorno ao passado, mas só se vive para diante".(Soren Kierkegaard) Quando volto, é como se eu restaurasse meu sistema operacional para funcionar melhor! Depois de muito fazer isso, hoje de forma aperfeiçoada, ainda sou o que já vivi por lá. Preciso me beneficiar daquelas lições mais uma vez, faço como disse (Mário de Andrade): "Passado é lição para refletir, não para repetir". Contudo, não posso invalidar as providências de Deus e o Seu trabalho para minha vida de lá até agora e de outros que também precisam de mim embora que seja indiretamente.

Mais uma vez, vi aquela velha máquina de costura, num bom estado de conservação, com sua marca em alto relevo: "LEONAM", em um canto funcional, na oficina de meu pai, onde, com ela, ele conserta os guarda-chuvas da redondeza. O meu velho com oitenta anos de idade, e ainda trabalhando e fazendo história! E novamente, achei muito interessante ter o nome dele ali no modelo daquele instrumento que era de minha mãe, bastando ler-se de trás para a frente: MANOEL. E perdurará por muitos e muitos anos ainda, se Deus o permitir! Então, participei de um singular momento e bastante familiar. Visualizei mentalmente minha mãe sentada por horas a fio fazendo suas costuras. Eu em êxtase, ouvindo o barulho da máquina, como era antigamente, ora fazendo os remendos nas nossas roupas, ora ensaiando um modelo novo para enfeitar a família. Lembrei-me de coisas que também não gostava, ela nos vestia com roupas iguais, comprava uma peça grande de tecido e fazia roupas iguais para todos nós. Nós nos apelidávamos de "turma tinta", porque íamos passear com as roupas novas, todas com a mesma estampa.

Outras coisas renasceram no momento, e ainda flutuam em minha memória. Quando meu pai me disse que aquela máquina era muito importante para ele, também pelo o valor sentimental embutido nela. Tinha vendido por um aperto financeiro e a comprou de volta. É como se fosse uma extensão de minha mãe ajudando meu pai, como sempre, é sua presença ali naquela oficina. Tentei lembrar do rosto físico dela, mas só me sobrou a face do seu amor. Entendi que nossas coisas se encarregam de ser palidamente o que fomos em vida, dependendo da leitura que fazem delas. Suas lições de vida para mim estavam ali, naquele exato momento de contemplação. Confesso que me emocionei e não pude conter as lágrimas que brotaram em meio do silêncio de uma consciência pesada por não ter feito mais para retribuir tanta dedicação com tão pouco recurso e sem muito talento, pois não estudara quase nada, porém seus instintos maternos já nos bastavam, agora compreendo melhor suas intenções e sinto muito sua morte! Esforcei-me para achar algum erro naquelas cenas mentais em tons de cinza, mas o presente era eloquente demais, graças ao passado, o tempo explicava-me tudo, ou melhor, o passado falava-me agora por si mesmo. Cada desfecho era o desatar feliz dos nós dos idos tempos.

Meu pai, ainda meu grande presente, por está vivo. E eu agradeço a Deus. Nunca deixei de ser filho, mesmo já sendo pai, apenas o compreendo como filho. Assim o obrigo a ser eterno, porque só nossos filhos desejam nossa eternidade. Mas, como gostaria que minha raízes fossem eternas!