Do autor: Al Berto

Dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice

conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo

dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nenhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos
 
 
      A CULPA NÃO É DO  SOL
                                    De: Liduina do Nascimento.


Quando ele abriu os seus olhos para a vida, percebeu viver em um sofrimento que aparentemente não teria conserto se ele próprio não fizesse por onde sair daquele lugar. Naquela situação não tinha outra saída senão estudar, olhava todos os dias, desolado, para a sua choupana à beira dum rio que transbordava, não havia uma boa refeição, nem para ele nem para os seus quatro irmãos, por sorte, peixe, ele como irmão mais velho, poderia pescar. Para ir para a única escola daquela cidadezinha, era preciso atravessar de barco, um barco antigo, feito pelo seu avô. De tábuas frágeis, mal feito, arriscando suas vidas. E quantas vezes a família não tinha outra opção a não ser, dormir em abrigos públicos, aglomerados, quando as chuvas eram intensas e enchiam ainda mais o rio, até o sol aparecer e eles poderem retornar para o lar. Dias difíceis aqueles. Agora, estava ali emocionado, havia vencido, depois de muita luta e estudo, ele conseguiu passar no concurso para ser juiz. ah a justiça, -Será que em meio a tanta corrupção, ele iria conseguir ser uma gota no oceano à fazer justiça? E porque não acreditar que nem tudo está perdido? Quando não se tem o privilégio de receber uma boa educação, a formação do indivíduo e suas conquistas, tem um caráter bem pessoal. Não importa a nossa origem, nem devemos culpar os outros pelos nossos fracassos, pela nossa falta de coragem de encarar as enchentes e barcos quebrados, os dedos estão sempre prontos para apontar os erros dos outros, enquanto isso o que importa para quem tem um horizonte à alcançar é seguir com coragem. É fácil falar que " O sol brilha para todos " no sentido literal ou no sentido figurado...
Não é bem assim, somos nós quem buscamos o nosso lugar ao sol. Portanto na analogia do espelho, veja apenas a sua vida refletida diante dele e mire a sua felicidade ou passe o resto da vida do outro lado do rio. O sol será um mero espectador. Não lamente o que o mundo não pode lhe dar, lute, busque, ame... Nada melhor do que o amor para nos dar força para continuar.  Liduina do Nascimento                                                              
                                                                                                 


















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Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 02/08/2015
Reeditado em 18/11/2015
Código do texto: T5332105
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