A CRISE

A CRISE

02/08/2015

Nestes últimos tempos tenho feito um balanço de minha vida, não sei se pela superação de uma depressão, se pelas dezenas de anos que já não me basta uma mão para contá-las ou se pelo massacre do noticiário querendo nos impingir uma crise.

E é pela crise que começo, pela palavra crise que usei para dar título a esta expressão de sentimentos e dar vazão a criatividade como forma de manter o cérebro ativo, mas que me fez manifestar a seguinte dúvida, será que alguém lerá?

A pergunta que faço é: quando não estivemos em crise? Quando era criança me lembro do meu pai comprando sacas de feijão e arroz como reminiscência de um pósguerra, preocupação que trouxe por todos os seus mais de noventa anos e que constato ao surpreendê-lo ainda hoje fiscalizando a situação da despensa e da geladeira. Na adolescência vivenciei o período da ditadura militar e as maquininhas de remarcação de preços que nos obrigavam a fazer compras tão logo recebêssemos nosso salário, sob pena de comprarmos menos feijão se deixássemos para o dia seguinte. Hoje vivemos a pior das crises, a crise de caráter, de honestidade, de sinceridade e de honradez.

Outra crise que por vezes passamos é a crise Divina. A crise da fé onde achamos que o nosso criador ou o nosso protetor nos abandonou, que nos deixou ao sabor da correnteza da vida. Mas para esta já tenho a solução basta sair de casa fazer uma pequena caminhada e ver a natureza, os ipês com suas multicoloridas demonstrações de beleza, a cerejeira que pela timidez, ou por não nos querer afrontar, talvez, expõe sua beleza exuberante por poucos dias. Ou ainda ao passarmos ou acompanharmos a infinidade de forma e curvas que tenho a certeza serem fontes de inspiração de todos os artistas clássicos ou contemporâneos e para o mais famoso de nossos arquitetos que é o corpo feminino, ultimamente muito imitado, mas nunca igualado enquanto natural independentemente da lei da gravidade.

Uma crise moderna e politicamente correta que vivemos é a crise racial. Não estou falando de racismo e sim da raça humana que caminha para sua extinção por comportamentos aceitos até por força de lei, mas que nada mais são do que indicadores de nosso processo de extinção. Esta minha afirmação nada tem haver com homofobia, gosto e apetite cada um tem o seu, mas apenas o medo de nossa raça estar praticando a autofagia e caminhando para a autoextinção.

Mas sem nenhuma sombra de dúvida a pior crise que vivemos é a da massificação da informação onde a vida virtual substitui a natural e os prazeres da surpresa, do inusitado, da inocência, da convivência, do aperto de mão, dos abraços, do olho no olho, do cafuné, do amasso, do papo com o amigo, da proximidade dos filhos, ficam submersas às lancinantes ausências de um gélido teclado.

Geraldo Cerqueira