Essa estória que eu vou contar, também de trancoso, apareceu na minha cabeça e voltou a se esconder, só vi a ponta do rabo. Fiquei foi tempo tentando agarrar a bicha. Ei-la.

Havia no Sertão um rapaz que gostava muito de ir a festas mas não gostava de trabalhar e, como não trabalhava, não tinha as coisas.
Toda vez que tinha festa ele pedia emprestado as roupas de alguém e ia, todo posudo, se fazendo que era rico pras moças caírem nas conversa dele feito moscas no mel.
Mas teve um dia que ele ficou com abuso de um amigo que lhe emprestou uma camisa branca de marca. O preguiçoso não podia se mexer que o amigo pulava em cima "fulano, cuidado, não vai manchar, não vai rasgar essa camisa que é a melhor que eu tenho". Assim o pobre passou a noite segurando a parede, olhando os outros dançarem.

Quando chegou outra noite de festa o desempregado ficou murcho desenxabido, já tinha pedido roupa a todo mundo e principiava a passar vergonha.
Um grande amigo dele, pessoa de gestos largos, frases de pára-choque de caminhão, perguntou-lhe o que se passava. E o rapaz contou a estória toda, de como ficou quieto durante a festa, com medo de estragar a camisa alheia. O amigo, muito cheio de bonitos discursos e rasgos de generosidade, era o que no Sertão a gente chama de trator: só tinha arranque, zuada e a roda grande. Disse que àquele festa o rapaz iria sim, e muito do bonito porque tinha comprado uma camisa da Handara, ainda nem estreara e como prova de sua amizade ia emprestá-la ao nosso herói.
O rapaz ficou muito agradecido. Quando foi de noite tomou um banho muito do caprichado, vestiu a calça Lee, calçou o par de tênis, borrifou Charisma no cangote e vestiu a linda camisa nova do outro. E se mandou pra festa.

Chegando lá, traumatizado pelo outrora ocorrido, ficou de novo escorado num canto de parede. As moças olhavam pra ele, doidas pra dançar mas o pobre nem se mexia, com medo de estragar a camisa do amigo. Já estava ganhando fama de besta entre as jovens.
Uma delas, mais adiantada, perguntou "fulano, tu enricou? Não quer mais dançar com a gente, fica só aí em pé, num liga mais pra nós..."
E o rapaz, temendo perder a consideração da donzela, pediu bem baixinho ao dono da camisa que deixasse ele dançar só um pouquinho, não ia nem suar.
Oh, rapaz. Pra quê. O amigo pulou no mei do salão e falou bem alto pra todo mundo ouvir: "Meu amigo, deixe de besteira! Pode dançar, suar, namorar até dizer chega, se quiser pode até rolar no chão sem se preocupar se vai sujar essa camisa porque ela é miiiiiinha!"
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 02/08/2015
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