PRECONCEITO NOS ANOS DORADOS

Não apenas os comunistas eram alvo do preconceito nos anos dourados. Mas principalmente os pobres. Vou citar um tipo de preconceito que presenciei e que dá a idéia de como se era discriminado por ser pobre. Certo dia fui ao cartório resolver um problema do BNB onde trabalhava, estava havendo uma audiência trabalhista, naquele tempo era o juiz de direito o responsável pelas questões trabalhistas. Era algo humilhante: um operário da Fábrica Peixe de cabeça baixa, amedrontado, o advogado dele, do sindicato, fazendo o faz-de-conta, enfim um simulacro de justiça. Num dado momento o advogado, na certa, involuntariamente, lembrou um certo direito, não sei hora-extra ou treco relacionado com insalubridade. Não prestou, o juiz ficou brabo que nem um siri, ele era pro-fábrica, claro, mandou o operário levantar a cabeça, nem falou com o advogado, e bradou: "Você pensa que a nossa Fábrica precisa dos seus tostões, cabra?!!!!". Era esse o tratmento recebido pelos operários que recorriam à "justiça".

O ensino médio etra priivilégio dos filhos dos ricos e remediados, filho de pobre só estudava até a quinta série primária. Mas aí um cara ligado aos pobres ss elegeu prefeito e resolveu fundar umfinásio municipal. Quando estava quase tudo pronto, seria misto e funcionaria à noite, a Igreja começou uma campanha contra o funcionamento do educandário, o argumento do "senhor bispo" que disse até na rádio era que umcolégio misto e ainda por cima à noite poderia servir para sos rapazes engravidarem as moças. A sociedade elitista apoiou, mas o prefeito resolveu fazer o ginásio funcionar, entrou mais uma vez o juiz e proibiu que rapazes e moças menores de idade fossem sozinhos para o ginásio.. Ora, os pais trabalhavam na fábrica e muitos também no turno da noite. O problema só foi resolvido porque o povo se revoltou e aí o juiz revogou sua portaria.

E a mulher? A mais discriminada era a desquitada, era nivelada às putas do cabré, evitada, sabotada, marginalizada. Vejam bem, a mulher só começou a votar em 1935, e no começo dos 60 só tinha direito a gritar: "Xô galinha! e Cala a boca menino!".

Não posso numa maltraçada elencar todo o rol de preconceitos. Mas auma coisa é certa: o bom mesmo nessa época era a música.