O Saquinho de Santo Antonio
 
Essa quem me contou foi um amigo meu, muito sem-vergonha e achador de graça que nunca trabalhou nem pretende. É um bon vivant. Único neto, a avó lhe faz todos os gostos e ele inclusive tem espírito de rico.
Só uma coisa a velha não admite: que ele fume. Não lhe dá dinheiro para comprar cigarros nem por um decreto. E ela não é besta não, se ele precisa de uma roupa, de um perfume, ela vai lá e compra. Em dinheiro vivo ele não pega. Então ele pede cigarros descaradamente aos amigos, a mim quase sempre.
Uma coisa que ele gosta muito de fazer é fotografar. Pediu que a avó lhe comprasse uma câmera semiprofissional e entrou em um curso de fotografia, daqueles que a Universidade oferece nas férias a preços acessíveis.
Os lugares que ele mais gosta de fotografar são igrejas. Não que seja católico que disso não faz empenho. É religioso por conveniência. Se tem uma crentezinha jeitosa ele entra pra religião de paletó, gravata e uma bíblia embaixo do braço. Depois que ganha a menina, desaparece. Penso que ele já foi tudo nessa vida, de budista a macumbeiro.

Diz ele que um dia entrou em um templo católico para fotografar as imagens de santos e depois sentou num banco para conferir as fotos. Nisso ele estava morto de vontade de fumar e não tinha dinheiro pra um U.S., avalia um Carlton que é o nosso predileto.
Apois. Depois de ver que as fotos tinham ficado bonitas ele olhou distraído ao redor. Foi quando deu fé dum saquinho marrom no cantinho do banco. Curioso que só ele, foi ver do que se tratava. Disse que abriu o saquinho e tinha um bilhetinho assim:

"Querido irmão, este é o saquinho de Santo Antonio. Se ele porventura chegar às suas mãos é porque o Santo lhe pede uma ajuda para os necessitados. Deposite aqui qualquer quantia e deixe-o onde encontrou, para que uma pessoa necessitada possa beneficiar-se de sua caridade."

Diz a lenda que o querido Santo Antonio ajudava moças carentes a casar-se e, certa, vez, jogou pela chaminé da casa de duas moças pobres um saco de dinheiro para que eles tivessem um dote, daí a sua fama de santo casamenteiro. Creio ser daí também a ideia do saquinho dos necessitados mas o meu amigo disso não sabia nem levaria em consideração.
O criatura não pensou duas vezes. Contou as moedas, um real, dois, três, sete e cinquenta. O preço de uma carteira de cigarro.
O bicho é tão sem-vergonha que, disse, se ajoelhou, fechou os olhos e rezou "obrigado, meu Santo Antonio, por atender às preces de um necessitado." E saiu muito satisfeito para ir comprar o cigarro na banca de revista.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 02/08/2015
Reeditado em 02/08/2015
Código do texto: T5332684
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