Não me chamo mais Analu

Nunca entendi o porquê das pessoas darem nome às coisas. Quer dizer, por que a toalha se chama "toalha" e não "cadeira"? Por que a cor roxa se chama "roxo" e não "vermelho"? A resposta parece simples: porque toalha é toalha e a cor roxa é roxo. Na verdade, talvez seja mesmo simples. Eu é que gosto de complicar.

Mas, voltando ao assunto inicial, eu tenho sim a consciência de que nomes são necessários para termos uma referência sobre determinada coisa. Não seria possível que uma conversa existisse sem , por exemplo. E nomes são palavras. E palavras têm significados. E significados são relativos. Eu e você podemos achar o crepúsculo bonito, mas não da mesma forma. Não com a mesma beleza. Mesmo que muitas vezes as ideias se cruzem e dêem origem a uma espécie de opinião coletiva sobre alguma coisa que nem sempre as pessoas conhecem. Daí a generalização. E acho que é disso que não gosto.

Pois, oras, se temos cada um uma concepção diferente de tudo que existe, por que temos que dar o mesmo nome para essas coisas? Nomes se tornam desnecessários quando sabemos que o que importa é a significância. Palavras jogadas ao vento têm menos valor que o farfalhar das folhas ou um redemoinho de poeira. Sem desmerecimentos, é claro. Mas palavras são relevantes quando moram dentro de você, em algum lugar. Aí elas passam a significar algo para você que jamais pode ser extraído. Modificado sim, porque somos modificados pelo tempo todo. Mas continuarão habitando seu corpo. Lembranças nascem assim.

Nomear pessoas, objetos e eventos naturais me incomodam. Gostaria de poder dizer que meu nome não é mais Analu. Afinal, meu nome não é o que sou. É só, sabe, um nome. Um nome gravitando em torno de mim. Não que eu saiba o que sou, mas isso também não tem nome. Não dá pra explicar. É como o amor. Ele abre espaço para várias interpretações mas, no fim, é inefável. Definitivamente sem palavras. Porque não cabe a essas quatro letras significar tanta coisa que tanta gente define. O mesmo pensamento eu transporto para os objetos e eventos naturais. Um edredom cheiroso pode lembrar uma boa noite de sono para um trabalhador e um péssimo para uma criança com rinite. Uma onda que atinge metros de altura pode ser a catástrofe de uma cidade e uma inspiração para um fotógrafo. São muitos pontos de vistas para uma mesma coisa que nunca é a mesma coisa.

Eu quero poder me chamar saudade quando sentirem minha falta. Chatice quando eu perturbar a paz de alguém. Paixão quando eu for arrebatadora. Desejo quando estiverem com tesão. Sossego quando eu for a calmaria no caos. E quero me chamar tudo isso de uma vez. Sem me preocupar em ser um pedaço de mim para cada um que me conhece de uma maneira diferente, um um lugar diferente, em uma situação diferente. E, ainda assim, quero ser inteira. Uma nômade da minha própria vida, migrando de um significado para o outro no coração da pessoas que ousaram, um dia, em me chamar de simplesmente Analu.