Minha Nuvem

Olha lá, um coração; olha, um hipopótamo; lá, um dragão cuspindo fogo. A criançada se diverte procurando desenhos em nuvens. Um jogo de imaginação que une os vários dedos apontados para um mesmo céu, como pincéis em uma tela de um mundo de fantasia. E as nuvens seguem navegando e levando as formas e sonhos, que somente um pensamento mais distante consegue capturar. Devaneios que vão além das fronteiras do céu. Era uma vez uma nuvem... saudades.

Hoje, a nuvem está em rede, com fios e sem fios, computacional. Uma vasta nuvem que permite aproximar pessoas ao toque de um celular. Uma nuvem que traz para uma sala fechada, um mundo aberto, sem fronteiras. Conexões a todo momento e em todos os momentos, sem parar um momento.

Aproxima os distantes; afasta os próximos. O lado a lado encontra-se do outro lado da nuvem. Nuvem que troca os sorrisos por “smiles”, que substitui abraços por “emoticons”, o “touch the skin” pelo “touch screen”. Uma nuvem que nos obriga pipilar mensagens em cento e quarenta míseras letrinhas e seus espaços, a fechar nossos álbuns de recordações para abrir um livro de caras, com rostos nem tão conhecidos. Uma nuvem que nos constrange a telefonar sem voz nem tom... o que está acontecendo?

Tragam minha nuvem de volta, para que eu possa navegar sem limites, para que eu possa sonhar distante, de mãos dadas com meus próximos.