E O CORONAVÍRUS EDUCA A EDUCAÇÃO

E O CORONAVÍRUS EDUCA A EDUCAÇÃO ("Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar." —Martha Medeiros)

Hoje, descobri os alunos, nas brechas que o professor dá-lhes, como os advogados "espertos" usando as brechas das leis a seu benefício, saem para fora da sala, na hora da aula, tumultuando a porta, a fim de que a coordenadora veja e brigue com o pobre professor tolerante! Foi isso que aquele aluno indisciplinado de oitavo ano passou-me na cara.

           Frustrado com minha proposta de ministrar aulas mesmo a quem nem dá valor em meus ensinamentos, e sabendo sobre a maioria está ali para não sei o quê; justifico o meu trabalho e a dignidade de meu salário, com o que é possível fazer aos comportados que ainda querem aprender: minoria. Outros poucos, tipos preocupados com o "auê", querem somente a atenção, ou querem apenas um expectador refinado, são carentes de prestígio. Eu nunca os ignoro, sou apenas um professor de Língua Portuguesa sem as credenciais de psicólogo, e jamais faço as vezes!

          Por que tenho de falar aos indisciplinados, pedindo-lhes bom comportamento a cada minuto: à grande maioria? É um psiu para cá, um oba oba para lá e um óhhh para acolá! Porém, os do sétimo ano continuam jogando papel uns nos outros e passeando na sala. Parece-me ser tudo que eles querem é mostrar sua agressividade e quem repete mais do lanche.  Querem mesmo é ser o centro dos olhares e mediante minha fragilidade moral abusam dela. Perturbados, sofrem os professores de alto domínio de classe, que de forma alguma é meu caso, diga-se de passagem, segundo os coordenadores exigentes, bons são os pautados pelos os "nãos" constantes, mantenedores na rédea curta. São esses os carregadores de alunos perniciosos e irreverentes nas costas, tirando-lhes a oportunidade de aprender andar na direção e da forma correta: "com as próprias pernas". 

           Mas, reconsiderando, o que é "domínio de classe"? Penso que tem tanto poder quem diz "não" a tudo como quem, por tantas vezes, também diz "sim", aos gostos desenfreados deles. Na verdade, o limite deles não termina quando começa o meu, invadem-me a paciência. Ora lhes digo "não" e ora lhes digo "sim". Sou o comedidamente, fazendo o papel de palhaço, ora falando às cadeiras ocupadas por pessoas vazias. Contanto que jamais os corrija em público senão enfrentarei um abaixo assinado de exclusão elaborado por eles, afinal o representante de sala é para isso! Nem falo mais de sua caligrafia é ilegível, pois, aconteceu-me outro dia, queriam me bater por isso. Eles são os que menos querem usar sua autonomia para viabilizar sua aprendizagem e procuram os atalhos, até porque, o professor dominador está sempre disposto a assumir a responsabilidade por aqueles que aceitaram os seus muitos "nãos", é cômoda a postura de robô, mas custa caro ao programador. "Todos os opressores... atribuem a frustração dos seus desejos à falta de rigor suficiente. Por isso eles redobram os esforços da sua impotente crueldade."(Edmund Burke).

           Quem assume o controle dos outros paga o preço de sua escravidão, porém quem liberta os outros paga o preço da sua liberdade: Qual destas atitudes é a mais cara? Quem nos escraviza assume o controle das nossas consequências, e, se as administrar erradamente, pagará também por isso. E, de jeito nenhum quero essa conta. Para mim, quem age irresponsavelmente, fazendo mau uso de sua liberdade, deve saborear sozinho suas consequências. Muitos, por não se submeterem à autoridade do mestre, controlam-no ao invés de serem controlados por ele, sendo que o mal sobrevirá repentinamente, como resultado disso, passando primeiro pelo controlador. Apagam-me e se fazem testas de ferro à minha frente. Que o coordenador brigue com eles e não comigo.

            No vespertino, fiz a seguinte reflexão sobre os alunos do fundamental: eles almoçam correndo, e chegam às 13h na escola, depois saem sem saber dizer, a sua mãe, o que se passou lá, conversando, bagunçando e concorrendo com o professor no maior esforço de mostrar que sabem mais, é tolice. Ainda, por cima, jogam a culpa no professor e acham quem os defenda! O que eles não sabem é que nunca se ensina adversário, mas parceiros. Ensinar é um ato de amor e aprender só é possível com respeito. A fala de Alice Walker, escritora estudo-unidense e ativista feminista, serve aqui aos dois lados: "Não pode ser seu amigo quem exige seu silêncio". Eu diria: Não é meu amigo quem abafa minha voz ou me obriga a calar. Paradoxal é o que faço, porém é o que consigo fazer; aos adversários dou-lhes notas boas, também calando-lhes a boca, uma vez iludidos de bons, tornar-se-ão heróis sem caráter: (Macunaíma)! Tudo é muito simples, até as medalhas de honra ao mérito eram apenas cerimoniais. Disse George Orwell: "A história é escrita pelos vencedores." Mas, hoje existem notícias de heróis que, na verdadeira história, só aparecem quando matam seus professores. E a estratégia dos pais? Processar, e ganhar indenização da escola. Temos inúmeros casos como o desta notícia: http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI130206,101048-TJRJ+Colegio+tera+que+indenizar+familia+por+bullying+praticado+contra (acessado em 05/12/2020).

            Também a instituição me exige altos índices de aprovação! É como dar-me uma arma sem balas e uma missão sem fim: vencer "moinhos de vento"! Todo mundo finge estar a favor da escola, até quando ela vai resistir!? "Lam.3:38 "Não é da boca do Altíssimo que vêm tanto as desgraças como as bênçãos?"