O Executivo

 
Estacionou a BMW em uma das vagas do seu apartamento no Meireles.
Um homem de meia-idade, bonito, executivo de uma rede bancária internacional.
Pegou o iphone para ler as mensagens. Além dos recados de trabalho havia outros, muitos, de mulheres apaixonadas implorando por uma chance. E de rapazes também, afinal, por verem-no sempre só, solteiro e rico, pensavam que ele era homossexual.
Ele apenas visualizava, não respondia. Tinha vontade de encontrar alguém que gostasse dele incondicionalmente mas achava isso pouco provável, quase impossível.
Nas vezes em que se permitia ter um encontro as mulheres se produziam como se fossem a um concurso de beleza.
Primeiro faziam a linha recatadas. Ao ver que essa postura não lhe despertava o interesse, ficavam mais soltas, falavam do quanto eram independentes, ganhavam bem, viajavam para o exterior e conheciam homens interessantes. Algumas até lhe propunham uma relação a três, caso ele tivesse um "amigo".

Era um desastre. Ele era romântico à moda antiga. Pagava a conta, levava as moças em casa e seguia sozinho para a sua cobertura.
No dia seguinte as mulheres comentavam com as amigas que ele era estranho, só podia ser caso de pinto pequeno. E riam. Quando ele chegava no trabalho, de terno italiano, pasta de couro e sapatos combinando com o cinto, deixava atrás de si o cheiro de perfume francês e os risinhos das colegas fúteis e dos colegas invejosos.
Era muito competente, cativante, falava vários idiomas. Mas era uma pessoa muito só.

Quando chegou em casa e preparou uma dose de uísque interfonaram da portaria. Pela manhã tinha chegado uma encomenda grande, o porteiro quase morto de curiosidade não perguntou o que era, tinha amor ao emprego mas ele mesmo comentou, tinha encomendado um móvel de um artista do interior, coisa muito bonita. E autorizou que os zeladores subissem com a encomenda.
Recebeu, deu gorjetas generosas aos rapazes e foi tomado de grande alegria. Esperava por essa encomenda há dias. Levou-a para a sua suíte, destrancou o closet e colocou-a lá. Abriu a caixa, contemplou com carinho sua nova aquisição, foi à cozinha e tirou de uma porta do armário um balde de restos de comida guardado há dias, já azedo e fermentando. Voltou ao closet, derramou a lavagem no coxo recém-comprado, se pôs de quatro e começou a comer com grande satisfação, metendo a cara, grunhindo alto, feliz da vida.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 28/11/2015
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