Sobre o filme "O piano"( Jane Campion)

Sobre o filme " O piano"

E eis que ela surge do fundo do mar, deixando para trás todo o seu

passado, todo o seu interminável silêncio , o seu único instrumento de comunicação com o mundo, seu piano...

Não foi tão fácil assim abrir mão dele.. Único companheiro, prolongamento de seus dedos...Porque emudecera, se tornando um ser defeituoso, faltoso?para quem qualquer destino era melhor que nada?Por certo lhe faltara algo, um espelho amoroso para se ver e se gostar...

E assim foi parar nas mãos de um não sei quem, incapaz de lê-la nas melodias que entoava com maestria em seu instrumento.. Ele não via? Não ouvia? Sua alma estava ali, exposta, intensa e vulnerável!...

E então aparece um forasteiro, rude, mas tão sofisticado em sua sensibilidade que por ela se apaixonou loucamente... E passava seus dias inteiros a ouvi-la, nem que para isso tivesse que pagar falsas aulas de piano,contentando-se apenas, em sua paixão incandescente, em toca- lá através de um furinho em sua meia.. Única parte de seu corpo a que tinha acesso...

E foi então que ela saiu de si e amou... E amou tanto que se entregou lasciva e se esqueceu de tudo.. Até ser traída pela própria filha , que, enciumada, foi intriga-lá junto ao marido, o que lhe valeu a amputação traumática de um dedo com um machado!... Mancha de sangue em sua vida, em sua música... Nódoa do amor!

E então , fugir se fez necessário, mas , como? Como enfrentar a vida das palavras? Como ser mulher? Como ter um homem de verdade para si? Ela foge em um barco com seu amor e seu piano, mas embaralha o pé nas cordas que amarravam o instrumento ao barco

e, com surpresa, talvez nem tanta, atira o piano ao mar, afundando junto com ele...

Agora sim, após uma breve hesitação, lá no fundo, ela solta o pé do sapato e vai subindo, subindo, é só ouvimos o seu pensamento"... que surpresa!.. Algo em mim escolheu a vida!"

E ela parte para a vida dos vivos que falam, com uma prótese no dedo amputado que faz ruído ao piano, sua única voz no mundo até então! E solta uma voz feia e fora do tom, pouco usada, mas bem compreendida por seu homem, que lhe afaga e acolhe nessa nova jornada... De menina a mulher!

De vez em quando, se lembra do piano, sozinho, lá no fundo do mar, onde há paz, e tudo é silêncio...

Angerona
Enviado por Angerona em 29/11/2015
Código do texto: T5464185
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