A Corrupção e a Política

A Corrupção e a Política

Prof. Luiz MASCARENHAS*

Algo de podre paira sobre nossa Política como um espectro do mal.

Trata-se da velha e conhecida Corrupção.

A Corrupção é um triste fenômeno nacional; cujas raízes se perdem nas brumas de nossa História e cujas características são múltiplas e sua disseminação é quase endêmica, em todos os poderes e níveis de governo.

Isto significa dizer que a corrupção encontra-se de tal maneira enraizada em nossa própria Cultura, que seria uma má inclinação ou característica que marca profundamente o nosso modo de vida. O que, por sua vez, denota acintosamente, as deficiências morais que perpassam pelas nossas diversas relações políticas, econômicas e sociais.

Temos plena ciência de que a corrupção não é um comportamento exclusivo da “Terra Brasilis”; porém aqui, ela se agiganta, toma proporções vultosas, escancaradamente acontece sob a luz do dia, aos olhos de qualquer cidadão que a queira detectar...e pior...deixa, em seu rastro, um cenário de abandono social e de morte; pois – de modo direto ou não – retira e priva daqueles mais fragilizados do tecido social aquilo que lhes garantiria as previsões e os direitos constitucionais básicos.

Um outro ponto a ser visitado, quando falamos sobre corrupção é que somos sempre conduzidos a pensar a corrupção nas altas esferas governamentais...como se fosse algo longe...distante de nós e de nossa realidade.

Porém não o é. A corrupção ( utilizando de uma passagem bíblica do sinóticos, mesmo que às avessas, como também é do gosto desse articulista...) é similar à semente de mostarda. Trata-se da menor das sementes; porém ao crescer é a maior das hortaliças, transforma-se em árvore, lançando seus ramos para toda a parte.

Em muitas de nossas pequenas ações está presente a corrupção nossa de cada dia, e que trazem o gérmen pútrido que conduz às grandes corrupções; ou que nos torna mais coniventes, tolerantes ou mesmo passivos ante às grandes corrupções. Apesar de que, sempre que se aborda o tema corrupção, produz nas pessoas, grande sentimento de revolta, de repugnância; uma vontade ferrenha de se querer fazer justiça.

Porém, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais e o Instituto Vox Populi, registrou que quase um em cada quatro brasileiros afirma que dar dinheiro a um guarda para evitar uma multa não chega a ser um ato corrupto. Isso é sério; um resultado temerário que demonstra a fragilidade moral em que vivemos!

Queremos demonstrar portanto, que para darmos combate rigoroso, objetivo e sério à corrupção – que grassa país afora - devemos atacá-la em todas as suas manifestações, a começar pelas pequenas.

Poderíamos até enumerar atos, notadamente eivados de características de corrupção, que muitos praticam , sem pestanejar, em nosso dia a dia, como por exemplo, não dar nota fiscal, não declarar Imposto de Renda, tentar subornar o guarda para evitar multas, falsificar carteirinha de estudante, dar ou aceitar troco errado, roubar a TV a cabo, furar fila, comprar produtos falsificados, no trabalho, bater ponto pelo colega, falsificar assinaturas e colar nas provas... Todos estes e tantos outros que podemos imaginar, são atos em si, corruptos; de maior ou menor gravidade, porém, corruptos. E, muitas vezes, deles, as pessoas saem com um ar de contentamento e um sorriso maroto nos lábios; a nos gabar da apurada astúcia. Os mais ousados até pensam...” enganei este trouxa e ninguém percebeu...” E ainda constroem uma série de justificativas, às quais, tranquilamente, lançam mão em sua defesa.

E assim o é. O querer sempre tirar vantagens e se orgulhar das artimanhas que se utilizou para consegui-las, não pelos méritos – o que seria o caminho da moralidade – mas portanto pelas vias da ilicitude, denota o caráter corrupto das pessoas.

Basicamente, eis assim a corrupção.

O menino vangloria-se de uma boa nota na avalição, sabendo não ser merecedor da mesma, uma vez que usou da cola; enganou seu professor e obteve a nota de modo desonesto. O político vangloria-se da negociata realizada com a empreiteira, sabendo não ser merecedor de tão vultosa quantia em dinheiro e cuja obra poderá causar danos irreversíveis a terceiros; enganou o povo e obteve suas imensas vantagens econômicas de modo desonesto. “Ah”...trata-se apenas da nota da prova; “ah”...trata-se apenas de alguns milhões de reais. Hoje acostuma-se com um pequeno ilícito e amanhã pensar-se-á normal os grandes.

Inevitável as incursões deste articulista pela História.

Então, recordemos Vieira, em seu “Sermão do Bom Ladrão”:

“Navegava Alexandre ( O Grande) em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício: porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.” E pensar que o Pe. Vieira o redigiu no ano de 1655, séc. XVII e atualíssimo está. No nosso Brasil, para os pequenos ladrões, as penas da Lei; já para os grandes...Se bem que hoje, os colarinhos brancos de Brasília e alhures andam às turras com a Papuda. Sinal dos tempos? Ou ainda é cedo para cantarmos vitória?

Havia até uma quadrinha nos tempos da chegada da Corte Portuguesa – 1808 - ( a mais perdulária e corrupta da Europa, segundo diversos renomados Historiadores) que assim dizia: “Quem furta pouco é ladrão, quem furta muito é barão e quem mais furta e esconde passa de barão a visconde".

Obviamente, não significa que não existam pessoas probas e honestas no Brasil. Muito menos que todos os cidadãos se enveredem pelas trilhas da desonestidade. Com relação ao ser humano, toda generalização será sempre burra.

Mas, porque afinal, somos acometidos desses abalos em nossa moralidade nacional e quais as consequências advindas da corrupção?

Haverá luz no final deste túnel tupiniquim?

Reflitamos pois...

Que este dia seja consagrado ao nosso mais profundo direito e que a todos nos iguala: o Direito ao Voto!

O Brasil tem, com certeza – independente dos partidos políticos que ocupam o Poder - logrado alguns bons avanços em diversas áreas. Mas ainda é muito pouco, frente às nossas imensas carências. E a Corrupção extorque os recursos que deveriam gerar o progresso e os serviços esperados. Mais que pensar em programas partidários, desta ou daquela corrente; de direita ou esquerda...( que aliás, nunca foi um traço de nossa Cultura política; jamais houve uma clara profissão de fé em ideologias de direita ou de esquerda e sim uma troca de cadeiras ao sabor das conveniências e interesses particulares dos políticos), deveríamos todos pensar no Brasil.

Termino estas mal traçadas linhas, com uma frase de uma grande liderança do Reino Unido, a Baronesa Margareth Thatcher, sobre o nosso país e que nos sirva como reflexão para este grande dia: “ Parece-me bem claro que o Brasil não teve ainda um bom governo, capaz de atuar com base em princípios, na defesa da liberdade, sob o império da lei e com uma administração profissional.”

Paz e Bem!

*Bacharel em Direito/

Licenciado em História

Pela Universidade de Itaúna.

Diretor da EE “Prof.Gilka Drumond de Faria”

profluizmascarenhas@hotmail.com

Luiz Mascarenhas
Enviado por Luiz Mascarenhas em 06/02/2016
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