O Meu Carnaval

Eu nunca comprei uma fantasia para o carnaval. Sou um cidadão que gosta de musica, e das “Festas de Momo” eu sou um apreciador de calçada. E vi muitos carnavais. Desde os carnavais na Avenida Andrade Neves, em 1942, com 8 anos, sentadinho na sarjeta, como todas as outras crianças, com os pais perto de nós.

Naquele tempo o desfile começava às 18 horas e todas as Escolas de samba, cordões e blocos passavam, religiosamente, uns após os outros, e às 22 horas o povo ia se retirando para as suas casas. Assim que desfilava o Leão da Várzea, fechando a festa e o resto seria saudade.

Mas em 1952 eu quase caio na pândega, como diziam as senhoras puritanas daqueles tempos.

Eu com 18 anos fui convidado para sair no “Azul e Branco”, um cordão da Vila Industrial. E eu topei e fui ensaiar na batucada da Escola, com um dos quatro surdos e peguei o ritmo da coisa. Quando faltavam 20 dias para o carnaval, o Senhor Mário me disse: ”... Aqui está a lista do que você precisará comprar, pois este é o uniforme (ou fantasia, como queiram)..”.

Como naquele tempo todo o meu pagamento era entregue ao meu pai. Ao lhe dar o pedido da Escola de samba, ele me disse: “...Eu não posso comprar a fantasia, pois o dinheiro está curto. Eu sinto muito, mas não posso te ajudar..”.

Ele ainda me disse: “...Eu também sempre gostei de carnaval, mas com um bloco de amigos cantávamos várias músicas da nossa época, de 1930 a 1938, como “O Teu Cabelo Não Nega”:

O teu cabelo Não Nega

Porque és Mulata na cor.

Mas como a cor não Pega Mulata

Mulata eu quero o teu amor.

Quem Te inventou,

Meu pancadão,

Merece uma Consagração.

A Lua com beicinho

Fez Careta

Pois Mulata tu não és

Deste Planeta.

Em 1932 como a coisa importante foi a Revolução Constitucionalista, em São Paulo, os poetas de plantão não perderam tempo, e fizeram a marcha Alerta. Que segundo o meu pai era assim:

Alerta, alerta.

Vamos fazer Revolução.

Nas trincheiras vamos ter mulatas

Na Avenida São João

A Felisbina que pilotava grande fogão

Muito cansada e descontente

Que namorava um tenente

Mas se casou com um capitão.

Alerta, Alerta, Alerta.

Vamos fazer Revolução.

Laércio
Enviado por Laércio em 08/02/2016
Reeditado em 08/02/2016
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