_____________“Troca de dia”



Não, não se trata de trocar dias como, por exemplo, trocar uma segunda por uma terça ou vice-versa. É troca de dia de trabalho, prática que acontece no município de Itamonte, Minas Gerais. Vi e me comovi com o que foi mostrado pelo programa Globo Rural, hoje de manhã, neste Dia do Trabalho.

A prática acontece entre agricultores vizinhos que se valem do trabalho trocado, num auxílio mútuo para o desempenho de tarefas do campo. Ali os homens se unem prestando serviços uns aos outros numa moeda de troca que faz a coisa acontecer e andar pra frente em casos em que se faz necessária a mão de obra em maior escala. As cenas mostradas são de uma impressionante capacidade de autodoação e autoajuda no melhor dos sentidos.

Uma cena, por exemplo,  mostra que uma vaca de um dos sitiantes, que caiu numa grota de difícil acesso, provavelmente não teria sido recuperada não fossem a força e a união da vizinhança que ajudou  a resgatar o animal numa situação da qual jamais sairia vivo. A alegria fica por conta da família que festeja a volta da vaca Baiana, elemento imprescindível ao sustento da casa e sobrevivência dos familiares.

É bonito ver a doação do trabalho entre os homens: o que seria feito em duas semanas com a ajuda coletiva é feito num único dia. Preparar a moagem dos silos, realizar a raspagem e o transporte do esterco dos currais, promover colheitas e roçar o pasto são ações que contam com a participação de todos numa força de colaboração digna de todos os aplausos. E o mais importante é que todos se beneficiam neste sistema, pois aquele que auxilia num dia, no outro é quem contará com a ajuda.

Bonito também ver o clima de companheirismo propiciado por esse sistema de cooperação. Depois do trabalho, o momento de confraternização em que todos se sentam à sombra de uma árvore e repartem a comida trazida de suas casas, naturalmente conversando sobre o trabalho e o dia tão proveitoso para o companheiro a quem se prestou o serviço do dia. E o que conta além de tudo, percebe-se, é a amizade que desta forma se estabelece e se fortalece.

Vale ressaltar que a troca se estende também às mulheres.  Faxinas, cultivo de hortas e jardins, organização das tarefas domésticas em geral também são realizadas no mesmo sistema. Outras atividades, como a colheita do pinhão contam com a participação de homens e mulheres, tudo com o intuito de colaborar com o trabalho alheio, que em situações futuras será revertido a todos.

Vendo tudo isso, chego a me emocionar: quando as pessoas querem tudo se pode conseguir. E não pode haver nada mais nobre que o que se faz a partir do compromisso da ajuda mútua firmado entre as partes. E neste dia do trabalho em que se vê o País vivendo momentos tão críticos fica a pergunta: por que se complica tanto, quando tudo poderia ser tão simples? Porém, enquanto o homem não buscar por si, e entre si, as soluções tudo será mais difícil. E até lá teremos a certeza: muita vaca ainda morrerá sozinha no brejo