As várzeas de nosso futebol.

Quem não se lembra de nossas várzeas? Foram momentos que permanecem como um pedaço de nossa história, afinal, são elementos que dão asas à imaginação porque formam um turbilhão de emoções que jamais serão esquecidas.

Lá em Amambai (minha cidade natal) só tinha um campo. Só existia ele. Exuberante. Soberbo. Misterioso. Festivo. Era um local de encontros da meninada e da elite amambaiense. Cansei de ver o Milionário jogar com equipes de gabarito tanto do Estado como do estrangeiro, especialmente equipes do vizinho Paraguai. Era ali que a maioria população amambaiense estava nas tardes de domingo. Era foguetório. Passeata. Barulheira para enfatizar a paixão por uma várzea quem nem sequer tinha nome. Chamavam-no de estádio municipal. Ali eu dei minhas primeiras ‘correrias’. Foi naquela várzea que adquiri o apelido de ‘Tourinho’. Recebi essa denominação semovente porque eu desembestava pela direita, de cabeça baixa e atropelava quem estava pela frente. Só as várzeas eram capazes de produzir tanta imaginação.

Corri muito pelos campos arenosos e de terra bruta.

A gente jogava nesses campos e não reclamava. Mas, no coração e na esperança de um futuro melhor nossas expectativas transpunham as deficiências do gramado. O pensamento voava longe, para um campo sem areia e sem terra. Assim, as várzeas também nos faziam sonhar. Elas encarnavam nossa vontade e nossa alegria, mas também se desenhavam como um caminho para a modernidade.

Essa é a história que nos tornou grandes. Hoje temos campos gramados em todas as cidades. O futebol amador continua firme e forte. Os bairros ainda revivem grandes disputas. Nossa paixão continua enorme. Só a idade não ajuda mais.

O tempo se encarregou de nos dar experiência, mas atropelou nossos arroubos de touro. Hoje, só a saudade é que vive em forma de alento. As várzeas formaram atletas. Criaram a magia das jogadas. E tudo ficou como elemento de acréscimo em nossa memória saudosista que hoje se aviva como forma de render homenagem à vida e a todas essas emoções da mocidade.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 01/07/2016
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