Evolução

Em uma de suas crônicas, um escritor famoso escreve sobre o progresso. No texto em questão, um menininho curioso pergunta ao pai como eram as coisas no seu trabalho no tempo em que não existiam os computadores. O pai, com todo o desejo de saciar a curiosidade do filho, procura até encontrar, a sua velha máquina de escrever Olivetti. Quando a máquina funciona comandada pelos ágeis dedos do pai, qual não é a surpresa do filho ao ver a "modernidade" da máquina, onde as letras já saíam impressas quando mal acabavam de ser digitadas. A criança então conclui de que aquela máquina era mais “adiantada” do que os computadores, por descartarem ao imprimir a necessidade das impressoras.
E no desenrolar desta crônica, o leitor é levado para outro texto: A história das invenções, de Cortázar.
Nesta deliciosa história, o escritor narra a involução humana. A evolução ao contrário. O homem começa a "evoluir" desde os aviões supersônicos para os subsônicos, e destes para os aviões a hélice.
Dos transatlânticos para os navios a velas, e destes para os barcos a remo; dos trens balas para as marias-fumaça.
E dentre todas estas evoluções, a maior e mais significante acontece também no âmbito terrestre: a dos automóveis de última geração para o andar a pé, que nesta história é tida como a maior e mais fantástica evolução e invenção humana.
Lembrei-me destes escritos ao atentar para uma evolução humana que toma conta das ruas de minha pequena cidade: as bicicletas motorizadas.
O ser humano não quer mais pedalar, e muito menos caminhar. E outra consequência desta infeliz (ou feliz, quem sabe) – evolução - é o barulho que fazem as tais bicicletas. Algumas chegam até mesmo a fazer mais barulho do que as próprias motocicletas, que por sinal, assim como os automóveis, estão cada vez mais silenciosas.
Mas no conto de Cortázar, o homem involuiria. Arrancaria os motores da bicicleta e descobriria um dos grandes prazeres deste meio de locomoção: o de pedalar.
Desta maneira a viagem seria devagar, uma viagem mais prazerosa, com a oportunidade de contemplar a natureza, as paisagens, as pessoas, os animais, sem poluição e com muito mais economia.
Como aconteceria também com a navegação nos barcos a remo, ou em uma tranquila caminhada.
E tudo isto com muito mais silêncio.



 
Allves
Enviado por Allves em 14/10/2016
Reeditado em 05/02/2020
Código do texto: T5791307
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