LEMBRANÇAS E LAMBANÇAS (trechos)

(OBS: esta crônica está sendo "reprisada", foi publicada inicialmente em novembro / 2014 aqui mesmo, como parte de minhas memórias, com o título de "A VIDA PASSA QUAL TREM...". Agora, está sendo declamada no YOUTUBE (acessar user/natoazevedo), conforme o texto abaixo:

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Esse texto, meio crônica, meio memórias, é de um colega de sala de aula dos meus tempos de GINÁSIO, anos 1965 e 66. Eu o invejava porque escrevia -- junto com outro aluno, o Aloísio Cansian -- o diário de nossa Classe, na revista "ENTRE AMIGOS", que circulava no Seminário Menor São Vicente de Paulo, lá em Araucária, no Paraná.

Meu amigo, que só me encontrou (na Internet) por puro acaso, porque escrevi errado o sobrenome de um amigo comum, trocando o S por um C. Foi preciso que êle também errasse... e o Destino NOS (re)UNIU 43 anos depois.

LEMBRANÇAS E LAMBANÇAS

Há uma força maior que nos move. Disso não há dúvidas. Não sabemos como, nem quando, mas por uma razão maior coisas que nem imaginamos acabam acontecendo. Você pode não acreditar, mas comigo aconteceu algo parecido ao acontecido com você. De minha infância pouca coisa restou, só vagas lembranças, só pequenas reminiscências. Talvez por ter sido uma infância na qual não vivíamos as nossas vidas. Éramos conduzidos a viver daquela maneira, sem qualquer liberdade e a lógica faz com que esqueçamos o que não nos traz alegrias. Às vezes chego a imaginar que éramos uns autômatos e não humanos. Quando eu saí, (...) procurei esquecer todo aquele meu passado. Mas, esquecer não é algo que dependa da nossa vontade. Para esquecer de fato, é só levar uma boa pancada na cabeça. E isso não aconteceu. Portanto, continuo lembrando algumas coisas daquele tempo, que, pensando bem, não foi de todo ruim. Não é possível avaliar se teria sido melhor fora de lá. Mas não dá para saber. Deixemos a cargo da Providência Divina qualquer julgamento. Afinal, há males que vêm para o bem e, ainda, Deus escreve direito por linhas tortas.

Descobrir o Cincinato depois de tanto tempo, foi sim obra de algum Anjo da Guarda. Na realidade, eu sequer lembrava desse nome. Só tinha uma vaga lembrança que em nossa sala havia um tal de carioca, que, parece, andava bastante de Alpargatas Roda e que tinha uma caneta esferográfica, que, ao escrever, largava tanta tinta e escrevia mais no verso do que no anverso das folhas do caderno. O seu caderno era todo azulão. Disso eu lembro. Do carioca, acho que era disso só que lembrava com nitidez Lembro, também, que ele dizia que tinha um irmão gêmeo e perguntávamos por que ele também não tinha vindo para o seminário. E, é só de lembrança. Mas quando surge um fato novo em nossa vida, nós voltamos ao passado e passamos a desenterrá-lo, ou puxar uma linha, e o passado vai se revelando, mesmo que meio opaco, sem muita nitidez. Descobrir o Cincinato, foi sim obra do acaso. Na realidade, o que eu buscava era encontrar por onde andava um outro araucariano, um tal de Aloísio Cansian, com "s" mesmo. Só que ao escrever Cansian, no "GOOGLE", errei e escrevi "Cancian", com "c". Para minha surpresa, como resultado da minha pesquisa apareceu um tal de Augusto Spizla, com "z", que não era para ser eu, afinal eu sou Spisla, com "s". Mas era eu o tal Augusto. Aí, fruto da curiosidade, li o texto e consequentemente todos os outros textos do mesmo autor, um tal de "Nato" Azevedo. Meus olhos brilharam. Foi uma tarde maravilhosa. Não gosto de escrever, mas de ler gosto demais. Uma dessas incongruências da vida. E que textos agradáveis...Revirei meu passado. Lembrei do tal carioca. Associei carioca com Cincinato. Cincinato com Palmas, e daí foi um turbilhão total. Voltei ao passado. Lembrei de alguns outros, do De Carli (naquela foto ao meu lado), do Assis (à direita, ajoelhado), do Vaz (em pé, à esquerda), do Longo, do Greboge, do Lucasievicz e de outros, que agora, no momento, já não lembro mais. Lembrei do álbum lá em casa que algumas poucas fotos eu tinha daquele tempo. Logo que chegasse do trabalho, daria uma olhada para ver se havia algo que lembrasse mais das pessoas. Achei aquela foto, imaginando ser você aquele mesmo ali do meio. E foi isso. Pura casualidade. Agora, descobrir o seu e-mail foi chute mesmo. Acabei vendo que o e-mail do seu irmão era sergioleiteiro, alguma coisa assim, @yahoo.com. Imaginei que o seu poderia ser o seu nome, ou como você se denomina, e o mesmo provedor. Acertei na mosca. Se não fosse, dentro de alguns dias mandaria a mensagem a seu irmão, pedindo para ser ele o carteiro, entregando o texto para você.

Não tenho mantido nenhum contato com alguém daquela época. Foi até acho que proposital. Procurava não lembrar daqueles tempos. Hoje, é claro, superei isso. Caso contrário, seria algo patológico. Todos os possíveis contatos desapareceram. Pela garimpagem que às vezes faço no GOOGLE acabo descobrindo alguma coisa. Sei, por exemplo, que o Raul de Carli é um odontólogo, prá la de especialista. Padres, da nossa turma, parece que só dois, o Vilso Paulo Longo e o Pedrinho Greboge. Não imagino por onde andam. (...)

O seminário não existe mais. Só o prédio. Já há mais de 25 anos é um colégio, como qualquer colégio do segundo grau. (...)

Agora, uma correção. O tal padre Jorge não era Mozart e sim Jorge Morkis. Bastante parecido é verdade. O tempo se encarrega de embaralhar as nossas idéias. (autor: AUGUSTO SPISLA -- email de 4 de março de 2008)